O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2020-04-06

Estudo do médico Vladimir Zelenko com hidroxicloroquina não tem comprovação científica

  • Enganoso
Enganoso
O estudo do médico de Nova York que alega ter “resultados positivos tremendos” usando hidroxicloroquina, azitromicina e zinco contra a covid-19 não foi publicado em nenhum periódico de saúde. Pesquisas divulgadas até agora são inconclusivas

É enganosa uma postagem no Youtube que destaca “100% de sucesso” em um tratamento contra a covid-19 realizado por Vladimir Zelenko, um médico de Nova York, nos Estados Unidos, com drogas como a hidroxicloroquina, o zinco e a azitromicina. A postagem acompanha trechos editados de uma entrevista concedida por Zelenko a Rudolph Giuliani, importante apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump. O estudo feito por Zelenko não tem comprovação científica, não foi publicado em nenhum periódico médico e a única evidência de sua existência são as declarações do próprio autor da suposta pesquisa.

A cloroquina e sua versão menos tóxica, a hidroxicloroquina, são indicadas no Brasil para tratar doenças como malária, reumatismo, inflamação nas articulações, lúpus, entre outras. A azitromicina, por sua vez, é um antibiótico. O zinco é um suplemento nutricional. Testes com esses medicamentos estão, de fato, sendo realizados em pacientes com graus diferentes de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, mas ainda não há comprovação científica de sua eficácia e a automedicação com essas substâncias é contra-indicada pela Anvisa, pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde.

Enganoso para o Comprova é o que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

Para esta verificação, buscamos as orientações do Ministério da Saúde, da Anvisa e da Organização Mundial da Saúde para o tratamento da covid-19, bem como os estudos recentes envolvendo o tratamento da doença com hidroxicloroquina e azitromicina.

Também buscamos o vídeo original da entrevista com Zelenko, publicado no canal Rudolph Giuliani no Youtube.

Cloroquina ainda está sendo testada para covid-19

A postagem verificada pelo Comprova foi feita em 2 de abril no canal “Embaixada da Resistência” no Youtube, uma página dedicada a traduzir para o português vídeos de apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O vídeo publicado pelo canal mostra trechos editados de uma entrevista feita por Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, com Vladimir Zelenko, um médico que atua em Kiryas Joel, comunidade de 35 mil habitantes no Estado de Nova York. A entrevista foi publicada no dia 28 de março deste ano. O texto que acompanha o vídeo diz que Zelenko teve “100% sucesso até agora” usando zinco e as drogas hidroxicloroquina e azitromicina, numa “abordagem pronta e rápida que não deixa a doença evoluir para um quadro de internamento, de onde é difícil recuperar ileso” (sic).

De fato, Zelenko alega ter obtido 100% de sucesso em tratamento realizado com 700 pacientes. Em uma entrevista para o canal no Youtube de um investidor do mercado financeiro, publicada em 1º de abril, o médico disse que apenas seis deles precisaram ser hospitalizados, sendo que dois tiveram pneumonia, mas se recuperaram; dois foram entubados e um faleceu. Este último teria, segundo Zelenko, abandonado o protocolo de tratamento.

Não há evidências de que essa pesquisa tenha realmente sido realizada a não ser a palavra do próprio médico. Em uma carta aberta publicada após o sucesso instantâneo do médico, líderes comunitários de Kiryas Joel acusaram Zelenko de exagerar a extensão da infecção pelo novo coronavírus na comunidade. Os resultados alardeados por Zelenko também não foram divulgados em nenhum periódico acadêmico. Estudos feitos em diversos países têm tentado verificar a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina, mas seus resultados são, por enquanto, inconclusivos (leia mais abaixo).

No Brasil, o Ministério da Saúde decidiu, em março, distribuir essas drogas em determinados hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) como tratamento auxiliar a pacientes que estejam internados e em estado grave. Como mostra essa nota informativa da pasta, a automedicação com cloroquina é contra-indicada e, no caso da covid-19, ficará a critério dos médicos responsáveis fazer uso, ou não, do medicamento.

Apesar da recomendação do Ministério de Saúde de tratar casos graves e críticos, a operadora de planos de saúde Prevent Senior orientou, segundo reportagem do portal G1, orientou os médicos da rede a prescrever cloroquina em tratamento para pacientes que relatam sintomas respiratórios e febre, mas sem confirmação de coronavírus.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a liberação das substâncias para pacientes em estado grave a partir de dados preliminares ocorreu devido à situação emergencial causada pela pandemia. De acordo com a agência, “esse é o chamado uso compassivo (por compaixão), já que não há alternativa terapêutica específica para esses pacientes.”

Também em março, a Anvisa autorizou a primeira pesquisa com a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina no Brasil, a ser realizada pelo hospital Albert Einstein, em São Paulo.

A OMS afirma que está acompanhando os estudos clínicos com o uso da cloroquina e derivados, mas até o momento os dados são insuficientes para estabelecer a eficácia desses medicamentos para o tratamento ou prevenção da infecção pelo novo coronavírus. Por enquanto, o órgão só recomenda o uso da cloroquina para o tratamento da malária e alerta para o risco de superdosagem.

O caminho de Vladimir Zelenko para a fama

Zelenko, de 46 anos, é, segundo a revista norte-americana Forward, um imigrante russo. Ele é médico nas cercanias de uma comunidade judaica ortodoxa, chamada Kiryas Joel, que fica a uma hora da cidade de Nova York.

Antes da entrevista com Giuliani, um vídeo transformou Zelenko em celebridade nos Estados Unidos. Publicado no Youtube em 21 de março, era endereçado a Trump. Desde então, as imagens foram removidas pelo site de vídeos por “violar os Termos de Serviço” da plataforma. O Comprova acessou o canal do médico no Youtube e constatou que ele foi criado em 15 de março deste ano. De fato, o vídeo em questão não consta mais na lista de publicações de Zelenko. Apesar disso, o vídeo continua circulando na internet, como o Comprova pode constatar em dois sites que publicam notícias das comunidades judaicas dos Estados Unidos.

No vídeo direcionado a Trump, de 3 minutos e 6 segundos, Zelenko se apresenta, detalha a experiência que tem realizado em Kiryas Joel e sugere que a combinação de hidroxicloroquina, azitromicina e zinco deve ser usada em pacientes do grupo de risco da covid-19 nos estágios iniciais da infecção ou mesmo como “profilaxia” – antes da infecção, portanto – em pacientes de alto risco. Trata-se de uma recomendação que difere do chamado “uso por compaixão” autorizado pelo Ministério da Saúde no Brasil.

“Eu estou vendo resultados positivos tremendos”, diz Zelenko no vídeo. O médico encerra o vídeo desejando sorte a Trump. “Minha sincera bênção para você, senhor presidente. Eu pessoalmente te amo. Espero que Deus proteja você e sua família e abençoe tudo o que você faz, que é salvar esta nação de um desastre”, diz.

Além de postar o vídeo no Youtube, Zelenko fez o mesmo no Facebook e publicou uma carta aberta no Google Docs divulgando seus resultados, segundo relatou o jornal The Washington Post. Quem colocou os holofotes sobre a experiência do médico de Nova York foi a Fox News, canal de televisão próximo a Trump.

Na noite de 23 de março, Sean Hannity, um dos principais apresentadores da emissora e conselheiro informal de Trump, leu trechos da carta de Zelenko ao vivo, durante uma conversa com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence.

Ainda segundo o The Washigton Post, Zelenko foi contactado pelo novo chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, e, na manhã de terça-feira 24, o ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, Rudolph Giuliani, elogiou seu trabalho no Twitter.

No último dia 28, Giuliani publicou uma entrevista de 41 minutos e 36 segundos com Zelenko em seu canal no Youtube. Nela, o médico afirmou que prescreveu hidroxicloroquina, zinco e azitromicina para cerca de 450 pacientes que apresentavam os primeiros sintomas da covid-19. Ele acredita que os medicamentos devem ser usados por pacientes que estão em casa, para diminuir o risco de serem internados. Mas faz uma ressalva: só receita o “coquetel” para pessoas com mais de 60 anos ou com doenças crônicas, alegando receio por causa dos efeitos colaterais das drogas. “É a arte da medicina, você quer o máximo de benefícios com o mínimo de efeitos colaterais”, disse.

Zelenko também especifica as dosagens de cada medicamento e quantas vezes por dia as prescreve para cada paciente. Dessa entrevista que foram retirados os trechos que estão no vídeo de 7 minutos e 53 segundos publicado no canal Embaixada da Resistência.

Ao divulgar a conversa no Twitter, Giuliani disse haver provas de que “a cloroquina é 100% eficiente contra a covid-19”. Como não há evidência científica disso, o tweet de Giuliani foi apagado pelo Twitter por violar as regras de uso da plataforma durante a pandemia da doença. Outros tweets de Giuliani nos quais ele não garante a cura da covid-19 continuam disponíveis em seu perfil na rede social.

Trump apoia a cloroquina, apesar da controvérsia

Há semanas, Trump tem apoiado o uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19, mesmo na ausência de evidências científicas sobre sua eficácia. Em 21 de março (mesma data em que Zelenko postou seu vídeo para Trump), o presidente dos Estados Unidos afirmou no Twitter que “hidroxicloroquina e azitromicina, tomadas em conjunto, têm uma chance real de ser um dos maiores fatores de mudança na história da medicina”.

Desde então, Trump vem incentivando com frequência o uso dessas substâncias. Diante da comoção provocada por seus discursos, pelo menos 20 estados tiveram, segundo levantamento do Wall Street Journal, de emitir diretrizes limitando a prescrição da hidroxicloroquina. A intenção é garantir que o medicamento continue disponível para os pacientes de doenças como o lúpus, por exemplo, que dependem da substância.

No sábado, 4, a agência de notícias Reuters publicou uma reportagem segundo a qual Trump e a Casa Branca pressionaram as autoridades sanitárias dos EUA para acelerar a permissão de uso da hidroxicloroquina contra a covid-19. Em um comunicado enviado à Reuters, a Food and Drug Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa, afirmou que “foi determinado, com base nas evidências científicas disponíveis, que é razoável acreditar que os medicamentos específicos podem ser eficazes no tratamento da covid-19 e que, dado que não existem tratamentos alternativos adequados, aprovados ou disponíveis, os conhecidos e os potenciais benefícios do tratamento desse vírus superam os riscos conhecidos e potenciais”.

No domingo, 5, Trump voltou a incentivar o uso da hidroxicloroquina em uma entrevista coletiva. Na conversa com os jornalistas, o presidente dos EUA impediu, no entanto, que seu principal conselheiro científico com relação à covid-19 respondesse sobre a hidroxicloroquina. Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, enfatizou em diversas outras oportunidades que não há comprovação científica da eficácia da hidroxicloroquina contra a covid-19.

Não há provas de eficácia da cloroquina

No tweet de 21 de março em que alardeou o uso da hidroxicloroquina, Trump citou um estudo realizado em Marselha, na França, por um grupo liderado pelo médico Didier Raoult. Segundo o estudo, a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina teria curado alguns pacientes de covid-19. Com um passado controverso, Raoult foi duramente criticado por conta do estudo, apontado como falho do ponto de vista científico e pouco transparente, uma vez que os dados brutos não foram compartilhados.

Desde então, outros estudos se debruçaram sobre essa questão. Um deles, realizado no hospital Renmin, da Universidade de Wuhan, na China, encontrou indícios de que a hidroxicloroquina ajudou a acelerar a recuperação de um pequeno número de pacientes que tinham sintomas leves da covid-19. Vale salientar que, segundo a OMS, entre os sintomas leves da doença está a pneumonia.

Outro pequeno estudo realizado na China, e publicado em um periódico da Universidade Zhejiang, não detectou benefícios com o uso de hidroxicloroquina e concluiu que mais pesquisas são necessárias.

Um quarto estudo, coordenado por Jean-Michel Molina, professor do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade de Paris, publicado no periódico Médecine et Maladies Infectieuses, não encontrou nenhuma evidência de redução da carga viral ou benefício clínico com a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina em pacientes com infecção grave por covid-19.

Viralização

A postagem do canal Embaixada da Resistência registrou, até esta segunda-feira 6, 47 mil visualizações.

Saúde

Investigado por: 2020-04-03

É falsa a corrente que diz que Xangai e Pequim não tiveram casos de coronavírus

  • Falso
Falso
Segundo a OMS, ao contrário do que afirma uma corrente que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagem, foram registrados 583 casos de coronavírus em Pequim e 526 em Xangai até o dia 3 de abril. Levantamento da universidade Johns Hopkins dá conta de 14 mortes nas duas cidades até a mesma data

Uma corrente que circula nas redes sociais afirmando que o novo coronavírus não chegou às grandes cidades chinesas, apresenta uma série de dados falsos para tentar comprovar que o vírus é um “atentado terrorista” produzido pela China para “criar pânico no mundo”.

O conteúdo foi publicado originalmente na página do Facebook “Jair Bolsonaro Presidente – Atibaia” em 1º de abril e depois passou a ser veiculado por outros perfis nas redes sociais.

A corrente usa dois argumentos centrais: de que a covid-19 se espalhou por todos os países, mas não atingiu Pequim, a capital chinesa, e nem Xangai, o polo econômico do país asiático; e que o vírus não teve impacto na economia e no mercado financeiro chinês.

Ambas as afirmações são falsas. No último balanço da universidade americana Johns Hopkins, até dia 03/04, às 17h, Pequim tinha 584 pacientes que testaram positivo para a doença, oito mortes e 434 pessoas recuperadas. Na mesma data, Xangai tinha 526 casos confirmados, seis mortes e 348 pacientes recuperados. De acordo com o levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), até o dia 03/04, foram registrados 583 casos de coronavírus em Pequim e 526 em Xangai.

Já em relação aos impactos econômicos, reportagem da Agência Reuters, de 31 de março, mostra que o mercado de ações chinês teve o pior trimestre desde 2018, por conta das consequências econômicas do coronavírus. No começo de fevereiro, as bolsas chinesas chegaram a registrar a queda mais importante em cinco anos, de 8%. Os dados do impacto da covid-19 na economia chinesa podem ser lidos em texto publicado (em inglês) pela Agência Nacional de Estatísticas do país.

Há outros trechos da corrente que também são falsos, como o Comprova destrinchou na seção abaixo.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para verificar a veracidade das informações do texto que circula nas redes sociais, o Comprova dividiu o conteúdo em 8 perguntas.

Buscamos as informações em publicações oficiais de contaminação pela covid-19, no mapa em tempo real mantido pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e no site da Organização Mundial da Saúde.

Foram utilizadas, ainda, reportagens com fontes oficiais e autoridades publicadas em veículos jornalísticos.

Você pode refazer o caminho da verificação clicando nos hiperlinks do texto verificado.

  1. É verdade que esse vírus não atingiu a capital da China, Pequim, e a capital econômica, Xangai, e não tem efeito sobre essas cidades?

O texto começa dizendo que doença se espalhou por todos os países, mas não atingiu Pequim, a capital chinesa, nem Xangai, o polo econômico do país asiático. De acordo com autoridades locais, em 20 de janeiro a China contava com 200 casos confirmados e já tinha pacientes infectados pelo vírus em ambas as cidades.

No último balanço da universidade americana Johns Hopkins, até dia 03/04, às 17h, Pequim tinha 584 pacientes que testaram positivo para a doença, oito mortes e 434 pessoas recuperadas. Na mesma data, Xangai tinha 526 casos confirmados, seis mortes e 348 pacientes recuperados. De acordo com o levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), até o dia 03/04, foram registrados 583 casos de coronavírus em Pequim e 526 em Xangai.

  1. É verdade que Pequim e Xangai não foram fechadas, não entraram em quarentena nem em lockdown e também não tiveram bloqueios?

Em outro trecho, o texto diz que não houve lockdown ou bloqueios em nenhuma dessas duas cidades. De fato, os governos locais não determinaram um isolamento total de toda a população, como foi feito em Wuhan, cidade onde foram registrados os primeiros casos da doença. No entanto, autoridades restringiram deslocamentos, fecharam restaurantes, cinemas, lojas e shoppings.

Os governos locais também adotaram uma política rigorosa para a medição da temperatura da população, por meio de um sistema de reconhecimento facial implementado em estabelecimentos, como mostra esse documentário sobre a quarentena em Pequim realizado pelo canal ArteTV.

Em Pequim, lojas, cinemas, museus e restaurantes foram fechados. Em Xangai, visitas a pontos turísticos foram suspensas na última semana. No dia 15 de março, as duas cidades impuseram uma quarentena obrigatória de 14 dias para pessoas que voltassem de viagens do exterior. Em Pequim, os que se recusarem em se isolar ou obedecer regras oficiais podem ser punidos pelo governo.

Alguma autoridade de saúde informou que o vírus não chegaria a Pequim e Xangai?

Em pesquisas na internet, em jornais locais e internacionais, o Comprova também não identificou nenhuma autoridade de saúde que tenha divulgado que o vírus não atingiria as duas cidades chinesas.

Pequim e Xangai são as áreas adjacentes de Wuhan, cidade em que se originou a doença?

A corrente também afirma que as cidades são “adjacentes de Wuhan”, local onde a doença se originou. Segundo o Google Maps, Pequim está a 1.152 quilômetros de Wuhan e Xangai, a 820 quilômetros.

É verdade que novos casos não estão chegando na China e o país está aberto?

Em seguida, o texto afirma que o “mundo está assolado enquanto novos casos não estão chegando na China”. Em 12 de março, o país informou que, após registrar 80.980 casos do novo coronavírus e 3.173 mortes, o pico da doença havia passado e os novos casos diários estavam em declínio. Com isso, seria possível começar a relaxar as medidas de isolamento no país, como reabrir as salas de cinema, e voltar a abrir a economia.

Contudo, segundo a ferramenta da Johns Hopkins, nos últimos vinte dias a China registrou mais 1.529 pessoas infectadas e 153 óbitos, até as 11h30 de 03/04. A preocupação com uma segunda onda de surto da doença por pessoas que possam voltar de países que ainda registram transmissão levou as autoridades chinesas a decretarem o fechamento das salas de cinema novamente .

É verdade que não há efeito do coronavírus no mercado financeiro da China?

Depois da exposição sobre os casos, a corrente se dedica a comprovar que não houve efeitos do vírus na economia e no mercado financeiro da China. Reportagem da agência Reuters, de 31 de março, mostra que o mercado de ações chinês teve o pior trimestre desde 2018, devido a preocupações sobre as consequências econômicas do coronavírus.

No começo de fevereiro, as bolsas chinesas chegaram a registrar a queda mais importante em cinco anos, de 8%. A produção industrial na China sofreu em fevereiro a mais rápida contração da história. Os lucros industriais diminuíram 38,3% nos dois primeiros meses de 2020.

A taxa de desemprego no país aumentou mais do que durante a guerra comercial com os Estados Unidos. O aumento da taxa, mês a mês, chega a ser maior do que o desemprego que ocorreu nos 18 meses anteriores, quando havia influência do embate comercial. Os dados do impacto da covid-19 na economia chinesa podem ser lidos em texto publicado pela Agência Nacional de Estatísticas do país.

Como a China é hoje um dos maiores polos econômicos mundiais, as consequências se espalharam por todo o mundo: a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento prevê uma redução de 5% a 15% nos investimentos estrangeiros diretos no mundo em 2020. A OCDE, o clube dos países ricos, projeta que o impacto mundial do coronavírus deve derrubar de 0,5 a 1,5 ponto percentual o PIB global. Em valores, se trata de uma perda de US$ 500 bilhões a US$ 1,4 trilhão em geração de riqueza, que deixará de existir.

É verdade que o vírus chinês é uma arma biológica da China? Há indícios de que o país tem remédios que não foram compartilhados com o mundo?

O conteúdo falso também diz que o vírus é uma “arma biológica” criada pela China para destruir o mundo e sugere que o país asiático “talvez também tenha remédios que não está compartilhando”. No entanto, segundo pesquisa científica publicada na revista médica Nature Medicine, o vírus não foi criado em laboratório.

Pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália apontam evidências de que o novo coronavírus seja resultado de uma seleção natural, segundo os cientistas. Uma das possibilidades consideradas é de que o novo coronavírus tenha evoluído em alguma espécie de animal (ainda não se sabe ao certo qual seria) e, então, ter feito a transição para o organismo humano.

O Comprova também consultou o virologista Lindomar Pena, do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), se havia possibilidade de o vírus ter sido criado em laboratório. Ele disse que o genoma dos coronavírus é enorme e isso dificulta sua manipulação genética.

“Nem mesmo o maior especialista em vírus do planeta teria a capacidade de construir um vírus tão exitoso em transmissibilidade. Isso é efeito de mutação e seleção natural durante a circulação do vírus em animais silvestres. A natureza é mais sábia que qualquer cientista”, disse o virologista.

O texto levanta ainda a possibilidade da China ter desenvolvido um remédio para combater o coronavírus, e não ter compartilhado com o mundo. Atualmente, não há nenhum tratamento comprovadamente eficaz para a doença. A China e outros países têm investido em pesquisas, mas nenhum deles já conseguiu comprovar a descoberta de um remédio único para tratar pacientes com a covid-19.

Na última semana, a Organização Mundial da Saúde anunciou que começará uma pesquisa global chamada de SOLIDARITY (solidariedade, em inglês), com o objetivo de testar, em milhares de pacientes, quatro terapias promissoras.

Recentemente, cientistas da Universidade Tsinghua, em Pequim, descobriram anticorpos que podem ser úteis para combater o novo coronavírus. O estudo foi divulgado pela China e pela mídia, mas não tem ainda eficácia comprovada.

O diretor-geral da OMS tem alguma relação com a China? Ele foi colocado no cargo através do esforço diplomático chinês?

Por fim, o texto classifica o novo coronavírus como “o pior atentado da história”. O conteúdo sugere que a propagação da doença contou com a participação do “presidente” da Organização Mundial da Saúde (OMS), que teria sido colocado no cargo por um esforço do governo chinês.

Na verdade, o etíope Tedros Adhanom foi indicado pelo governo da Etiópia para concorrer ao cargo, que começou com seis candidatos na disputa. De acordo com o site de notícias STAT, especializado na cobertura de saúde, foram três rodadas de votação secreta entre os estados membros da OMS até que Tedros fosse eleito.

Na última votação, que ocorreu na 70ª Assembleia Mundial de Saúde em 2017, o etíope derrotou David Nabarro, da Inglaterra, e Sania Nishtar, do Paquistão. Ele recebeu 133 votos dos 185 estados membros. O Comprova não encontrou nenhuma referência online de apoio da China à eleição de Tedros.

Quem compartilhou o conteúdo?

O texto foi publicado primeiro às 15h37 do dia 1º de abril, no perfil “Jair Bolsonaro Presidente – Atibaia” do Facebook.

Depois, o Comprova identificou outras reproduções do conteúdo, em sites de notícias conservadores do Paraguai, em páginas do Twitter e em mensagens no WhatsApp.

Viralização

O post original na página do Facebook bolsonarista teve 44 curtidas e 38 compartilhamentos. Em seguida o perfil do Twitter @zfabrogmailcom reproduziu o conteúdo, que teve 353 curtidas e 173 compartilhamentos até as 17h de 3 de abril.

Outros perfis compartilharam o conteúdo, que também circulou pelo WhatsApp.

Outras verificações

Também desmentiram a corrente o site Boatos.org, AosFatos.org e o portal G1PAGE_BREAK: PageBreak

Saúde

Investigado por: 2020-04-03

Áudio no qual um suposto médico de hospital do Rio de Janeiro defende o fim da quarentena tem informações falsas

  • Falso
Falso
Não existe a função de chefe de rotina no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no bairro de Acari, no Rio de Janeiro, função que o suposto médico diz exercer, e os dados que ele apresenta em áudio compartilhado em redes sociais não condizem com a realidade

O áudio que circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagens com uma mensagem de um suposto médico de um hospital do bairro de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que recomenda a interrupção das medidas de isolamento social e a volta da população ao trabalho, devido ao baixo número de casos da covid-19 registrados na capital fluminense, apresenta dados falsos.

O homem que se apresenta como “chefe da rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla não diz seu nome, mas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, não existe essa função no hospital de Acari.

O áudio surgiu em grupos de WhatsApp e foi veiculado no canal do YouTube da jornalista Regina Villela, em 27 de março. O conteúdo produzido por ela foi então publicado, no dia 29 do mesmo mês, na página de Facebook do deputado estadual Delegado Cavalcante, do PSL do Ceará.

No áudio, um suposto médico, que se apresenta como “chefe de rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, questiona as medidas de isolamento social impostas pelo poder público. Ele também diz que é chefe da emergência do Hospital Municipal Rocha Faria e que atua no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes.

Procuradas pelo Comprova, as Secretarias Estadual e Municipal negaram que o suposto profissional faça parte do quadro de funcionários das instituições, e a pasta municipal ressalta que ainda que o áudio fosse realmente de um médico atuante nas instituições, a opinião pessoal de um profissional não refletiria o posicionamento adotado pela Prefeitura e pela Secretaria Municipal de Saúde.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Em uma busca básica na internet e na rede social do deputado cearense Delegado Cavalcanti (PSL/CE) e a partir da publicação, localizamos a conta de Regina Vilella no YouTube, onde o vídeo ainda estava disponível.

Além disso, com outras ferramentas de busca levantamos a origem dos perfis citados na verificação do conteúdo e consultamos as assessorias de imprensa e comunicação das secretarias municipal e estadual de Saúde.

No vídeo, Regina Villela começa sua apresentação dizendo que recebeu, pelo WhatsApp, o áudio “trocado entre um médico e os seus amigos, no Rio de Janeiro”. Segundo ela, a voz seria do “chefe de rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, que foi “alocado para ser o centro de referência para o atendimento dos pacientes que chegarem na rede municipal ou estadual com problema pneumológico provocado pelo ‘vírus chinês’”. Entramos em contato com a jornalista, por email, para obtermos mais detalhes sobre a origem do áudio e a identidade do suposto médico, mas não obtivemos resposta.

No áudio, o suposto médico diz que tem uma “boa notícia”. “Desde segunda-feira, nós temos no CTI quatro pacientes, nenhum óbito. Desses pacientes, 2 estão no tubo, grave, se mantendo. No quinto andar, onde temos 160 leitos distribuídos em 20 ou 25 enfermarias, cada uma com 4 ou 5 leitos, 8 pacientes internados, todos eles estáveis. Nem mesmo no CTI, são pacientes que não fazem parte da nossa faixa etária, e olha que eu tô com 56 anos“, afirma.

O Hospital Ronaldo Gazolla é a principal unidade de saúde que está sendo preparada, na capital fluminense, para receber a maior parte dos casos de coronavírus da cidade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a unidade terá 381 leitos para os pacientes da covid-19, que estão sendo preparados e liberados conforme demanda. Ao contrário do que é afirmado pelo suposto médico, os casos registrados no Rio de Janeiro não se restringem a pessoas com comorbidades ou a idosos. O Estado tem, segundo o boletim epidemiológico publicado em 1º de abril, 832 casos confirmados da covid-19, 697 deles na capital. Além disso, pelo menos 28 mortes por coronavírus ocorreram no estado até o dia primeiro.

 

O suposto profissional reforça a volta ao trabalho e diz que tem acompanhado a retomada de atividades nas proximidades dos hospitais onde afirma trabalhar: “Voltem ao trabalho, não fiquem em casa. O que o Bolsonaro falou, ele tá coberto de razão. A gente já está experimentando, dentro das favelas – eu trabalho dentro da favela de Acari [onde fica o hospital], eu sou chefe da vermelha do Rocha Faria, eu estou nesse momento aqui saindo do Hospital Adão Pereira Nunes, que é o de Saracuruna, as imediações desses hospitais é formada [sic] por um povo… Uma população muito pobre, já tá tendo uns ‘piquetezinhos’, pedido de dinheiro, o povo tá começando a entrar em desespero“. Como mencionamos, as Secretarias do Estado e do Município do Rio de Janeiro não reconhecem o vínculo do suposto médico com os hospitais citados.

O homem ainda continua sua argumentação: “Não existe risco de coronavírus matar quem quer que seja da faixa etária até 40 anos ou 45 anos“, pontua. Ao contrário do que afirma o suposto médico, o Brasil já registra, conforme boletim do Ministério da Saúde, no dia 1º de abril de 2020, 11% das mortes em pacientes abaixo dos 60 anos. Destes, 15 estavam na faixa entre os 40 e os 59 anos, e 7 tinham entre 20 e 39 anos. A vítima mais jovem da doença no país tinha 23 anos.

Outra afirmação do autor do áudio é de que “nós temos a taxa de replicação do vírus muito mais baixa do que as pesquisas mostram. Existem uns gráficos, não sei se vocês já viram, de cor, onde a faixa acima do Equador tá toda vermelha, tomada, porque lá é um ambiente frio. Nós não temos invernos radicais. Então, vamos evitar aí o colapso econômico“. Uma projeção da Imperial College, de Londres, na Inglaterra, aponta que o Brasil terá, pelo menos 44 mil mortes causadas pela covid-19, caso sejam adotadas medidas mais duras de isolamento. Caso se adote o que vem sendo chamado de “isolamento vertical”, ou seja, somente o isolamento de indivíduos que fazem parte de grupos de risco, esse número pode chegar a 529 mil.

A respeito da suposta diferença de replicação do vírus no Brasil, por causa do clima tropical do país, não há estudos conclusivos que suportam esta afirmação. Ao contrário, especialistas afirmam que o clima mais quente do país não protege contra a doença.

Quem é Regina Villela?

No site de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, do Tribunal Superior Eleitoral, Regina Maura Villela Barboza, 58 anos, se apresenta como jornalista e redatora, nascida na cidade do Rio de Janeiro, moradora de Fortaleza/CE, e foi candidata do Partido Social Liberal (PSL) à vaga de deputada federal pelo estado do Ceará.

Regina já prestou serviços para a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado do Ceará, fornecendo trabalhos na área de comunicação e atualmente mantém um canal no YouTube intitulado “Regina Villela: Informação, Opinião e Gargalhadas”, cujo perfil é conservador e o principal tema é a abordagem de temas políticos.

Ela é também autora da divulgação do áudio do suposto médico em seu canal e escreve para o site conservador Terça Livre.

Outros conteúdos divulgados por Regina Vilella já foram checados e apontados como inverídicos.

Viralização

O Comprova encontrou publicações feitas no YouTube, Twitter e Facebook, entre os dias 27 a 29 de março.

Até às 20h23 desta quinta-feira (2), o vídeo publicado no canal ‘Regina Villela’ no dia 27 de março, teve mais de 560 mil visualizações, 43 mil reações positivas, 1,5 mil reações negativas, com mais de 1.700 comentários.

Na conta oficial de Regina Villela no Twitter, a publicação feita em 28 de março tem 811 retweets e 1.700 curtidas.

A publicação da jornalista no Facebook, feita no dia 28, tinha 231 reações, 34 comentários e 140 compartilhamentos até o dia 2 de abril.

O vídeo de Regina foi compartilhado no dia 29 de março, na página ‘Delegado Cavalcante’, ligada ao deputado estadual do Ceará, do PSL, no Facebook. A publicação alcançou até esta quinta, mais de 77 mil reações, 18 mil comentários e 117 mil compartilhamentos.

O portal de notícias G1 também produziu uma reportagem sobre esta fraude.PAGE_BREAK: PageBreak

Saúde

Investigado por: 2020-04-02

Ministério da Defesa desmente boato de que Exército tenha construído 2 mil leitos em 48 horas

  • Falso
Falso
As Forças Armadas têm, de fato, atuado em montagem de hospitais de campanha, mas não é verdade que tenham construído 2.000 leitos em 48 horas como afirmam postagens nas redes sociais. Na China, os primeiros três hospitais de campanha tinham 4 mil leitos e foram feitos em 29 horas

São falsas as publicações no Facebook que afirmam que o Exército brasileiro construiu 2 mil leitos em 48 horas para responder à pandemia do novo coronavírus, em comparação com a China, que teria construído 1.000 leitos em 10 dias. Procurado, o Ministério da Defesa assinalou que esta informação não procede, mas que as Forças Armadas estão atuando na montagem de hospitais de campanha. O Exército também foi procurado pelo Comprova para esclarecer o assunto, mas não respondeu até o fechamento deste texto.

A afirmação verificada neste artigo foi publicada em 29 de março no Facebook e, desde então, foi replicada no próprio Facebook, além do Instagram e Twitter.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

Para esta verificação, foram consultadas as páginas na Internet do Exército e do Ministério da Defesa, os sites da Comissão Nacional de Saúde da China e do jornal China Daily e usada a busca reversa de imagens do Google. Também entramos em contato por e-mail e telefone com o Ministério da Defesa e com o Exército.

Atuação do Exército no combate à covid-19

As Forças Armadas brasileiras têm, de fato, atuado no combate à pandemia de coronavírus. De acordo com uma publicação no site do Ministério da Defesa com data de 1º de abril, a chamada “Operação Covid-19” está em seu 10º dia de ação e conta com mais de 22 mil militares.

Contudo, diferentemente do que afirmam as publicações viralizadas, não foi registrada até este momento nenhuma construção de 2.000 leitos em apenas 24 horas.

Em e-mail ao Projeto Comprova, o Ministério da Defesa indicou que “a informação não procede” e que as Forças Armadas estão trabalhando “no apoio para a montagem de hospitais de campanha”.

Nos sites do Governo Federal e do próprio Ministério da Defesa, há matérias a respeito da instalação em Boa Vista, Roraima, de uma “área de proteção e cuidados” para atender, em princípio, 80 brasileiros e venezuelanos com suspeita ou confirmação de coronavírus, e cuja ação faz parte da “Operação Acolhida”.

Em confirmação por telefone ao Projeto Comprova, o tenente Edwaldo Costa, da assessoria de comunicação do Ministério da Defesa, explicou que, com a participação do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), este local de proteção e cuidados será ampliado para 1.200 leitos hospitalares e 1.000 leitos para pessoas infectadas ou com suspeita de infecção, mas ainda não está em funcionamento, pois estão sendo providenciados.

Publicações que exaltam o Exército tiram fotos de contexto

Várias postagens no Facebook que elogiam a construção de 2 mil leitos pelo Exército brasileiro utilizam duas fotos fora de contexto.

A primeira imagem mostra a montagem de uma estrutura para atender pacientes com problemas respiratórios no Pavilhão de Eventos São Sebastião Mártir, em Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul. A foto foi publicada no site de notícias local Portal RVA no dia 24 de março de 2020 — a reportagem informa que ali serão instalados 30 leitos, e não 1,2 mil.

Nesta outra matéria do Portal RVA, é possível ver outras fotos da estrutura de atendimento. Esta reportagem de outro site local informa que os leitos foram emprestados pelo Exército ao município.

A outra foto é do Hospital de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier, em Curitiba. A foto foi tirada no dia 1º de outubro de 2019, data de inauguração de dez novos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pelo governo do Paraná. O espaço da UTI existia desde 2008, mas estava sem equipamentos.

China construiu 13 mil leitos

De acordo com a Comissão Nacional de Saúde da República Popular da China, 16 centros médicos temporários foram construídos em ginásios e centros de exposição da cidade de Wuhan, epicentro da pandemia na China.

As informações sobre os hospitais foram divulgadas no China Daily, jornal do Partido Comunista Chinês. Treze mil leitos foram disponibilizados para o tratamento de vítimas da covid-19 que apresentavam sintomas leves nesses locais. Os primeiros três hospitais de campanha, de um total de 16, tinham 4 mil leitos e foram feitos em 29 horas. Segundo agências de notícias internacionais, como a BBC, outro hospital, com mil leitos, foi construído em dez dias.

Ainda segundo as autoridades chinesas, o tempo médio para a construção dos hospitais de campanha foi de um dia. Os centro médicos funcionaram durante o ápice da epidemia, por um período de 35 dias.

Viralização

As publicações tiveram grande repercussão desde que foram postadas pela primeira vez, somando, até este momento, mais de 39,5 mil compartilhamentos no Facebook. Embora em menor escala, postagens com alegações semelhantes foram reproduzidas no Twitter e Instagram.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Áudio vazado de suposto assessor do governador do Ceará é falso

  • Falso
Falso
Os envolvidos negam o conteúdo do áudio e o nome Ricardo Certi não consta na lista de servidores estaduais do Ceará nem foi encontrado em outros sistemas de busca. O único nome semelhante encontrado pelo Comprova é Riccardo Certi, um barítono italiano de Bréscia

São falsos os áudios e vídeos divulgados em páginas e grupos de Facebook, Twitter e no WhatsApp que atribuem a um suposto assessor da Casa Civil do Governo do Ceará, chamado Ricardo Certi, o envio de uma mensagem para o Sistema Verdes Mares de Comunicação. O governador do estado, Camilo Santana, publicou uma postagem na sua página oficial do Facebook desmentindo o conteúdo e a autoria da mensagem. Ricardo Certi não é um nome que consta na lista de servidores estaduais. De acordo com a Secretaria de Estado da Casa Civil do Ceará, o caso foi informado às autoridades policiais para investigação.

Na mensagem de áudio, o suposto assessor pede ao interlocutor para “fazer a sua parte”, que seria criticar Jair Bolsonaro. “A parte de vocês é meter o pau só no Bolsonaro, só no Bolsonaro, porque a nossa parte aqui a gente está fazendo, que é fechar os comércios para ter a revolta”, diz, em um trecho, o autor do áudio. Em outro, afirma que “quando o povo se revoltar, a gente quer a revolta, que o povo passe fome mesmo. […] Pedir o impeachment do Bolsonaro. Aí vocês jogam aí na imprensa essa coisa: ah, o Bolsonaro não está sabendo lidar com a covid.” A mensagem finaliza dizendo que “[…] a intenção é essa mesmo. Começar a deixar faltar coisas nos supermercados ou então limitar o acesso ao supermercado, que é para o povo ir para a rua, mas contra o Bolsonaro.”

A Associação Cearense de Rádio e Televisão (ACERT) emitiu nota na qual afirma que “o áudio, que sugere que um servidor do Governo do Ceará está conversando com um suposto colaborador do SVM, é inverídico e criminoso”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para realizar esta verificação, o Comprova consultou o portal Ceará Transparente e verificou que o nome de Ricardo Certi não consta na lista de servidores estaduais. Também não há registro de servidores com nomes de grafia semelhante, como Ricardo Serti, Certti, Sertti. ou Certe. A busca pelo nome também não traz resultados no Google, a não ser do próprio áudio vazado. Buscando em um sistema de busca de pessoas no Brasil, também não foi encontrado nenhum resultado nem o CPF do suposto assessor, nem quando a busca foi feita pelos sobrenomes de grafia similar (Certi, Serti, Serte, Certe, Certti, Sertti). A única pessoa com nome semelhante e registro na internet é Riccardo Certi, um barítono italiano de Bréscia.

Além da publicação na página oficial do Facebook, o Comprova buscou a assessoria de comunicação do governador do Ceará, que desmentiu o conteúdo do áudio. Também entramos em contato com a Associação Cearense de Rádio e Televisão (ACERT), que nos enviou uma nota de repúdio ao conteúdo do áudio, na íntegra. O Comprova entrou em contato com a assessoria de comunicação do Grupo Edson Queiroz, detentor do Sistema Verdes Mares, que corroborou a nota da Acert.

Diferente do que afirma o conteúdo do áudio, o decreto para fechamento do comércio no estado do Ceará, publicado no dia 19 de março, ocorreu para intensificar as medidas para enfrentamento da infecção pelo novo coronavírus. A decisão considerou o decreto anterior, n.º 33.510, de 16 de março de 2020, que determinou situação de emergência em saúde no âmbito estadual em função do crescente aumento no Estado do Ceará do número de casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O governo também seguiu a recomendação expedida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

O que diz o governo: comércio e desabastecimento

Ao contrário do que diz o áudio compartilhado, o Governo do Ceará não decretou limite de acesso a supermercados nem o fechamento desses espaços. De acordo com decreto, prorrogado por mais sete dias no último dia 28, “todas as atividades essenciais à vida da população permanecem funcionando, toda a sua cadeia, desde a produção de alimentos, a distribuição, logística e os supermercados.” O próprio governador explicou, em áudio publicado no site oficial do governo, quais são as exceções ao fechamento do comércio no Ceará.

O Comprova também consultou a Associação Cearense de Supermercados (ACESU). A entidade diz, em seu site, que “os supermercados fazem parte do rol de atividades essenciais instituído pelo governo federal e estão funcionando normalmente no estado do Ceará”. Além disso, a entidade regional diz que acompanha de forma atenta, com a Associação Brasileira de Supermercados, toda a cadeia de abastecimento do segmento, e que “não há desabastecimento de gêneros alimentícios, de higiene pessoal, bem como, de limpeza em geral”.

Viralização

O áudio, muitas vezes acompanhado de um vídeo, do suposto assessor Ricardo Certi teve mais de 1.500 compartilhamentos no Facebook, mais de 500 vezes no Twitter. No Youtube, o conteúdo falso teve mais de 150.000 visualizações.

O material foi enviado ao Comprova por meio do nosso Whatsapp (11 97795-0022)

A Agência Lupa e o Boatos.Org também fizeram a checagem deste áudio.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Vídeo do diretor da OMS foi tirado de contexto para validar discurso de Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
Alerta de Tedros Adhanom Ghebreyesus, no entanto, não significa que a OMS tenha deixado de apoiar o isolamento social como estratégia contra o novo coronavírus

Um trecho fora de contexto de uma fala do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), no qual ele alerta para os impactos econômicos do distanciamento social, tem sido compartilhado nas redes sociais de modo a referendar a posição do presidente Jair Bolsonaro sobre o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, contrária à implementação do isolamento social. O alerta de Tedros Adhanom Ghebreyesus, no entanto, não significa que a OMS tenha deixado de apoiar o isolamento social como estratégia contra o novo coronavírus.

Em sua colocação, feita durante coletiva de imprensa da OMS no dia 30 de março, Adhanom pede que os governos levem em consideração os impactos econômicos que um lockdown pode ter sobre as pessoas mais pobres.

Ele respondia à pergunta de uma repórter da Índia sobre a crise humanitária que o país tem enfrentado em meio à pandemia. Na semana passada, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, impôs a 1,3 bilhão de habitantes a maior quarentena da história da humanidade.

“Alguns países têm um forte sistema de bem-estar social e outros não”, disse. “Os governos devem ter em conta esta população; se estamos fechando ou se estamos limitando a movimentação, o que vai acontecer às pessoas que têm de trabalhar diariamente e têm de ganhar o pão de cada dia?”, questiona o diretor-geral da OMS.

Por conta da repercussão de sua fala, o diretor-geral da OMS esclareceu posteriormente, em sua conta de Twitter, que não quis dizer que os países não deveriam impor o distanciamento social para conter a disseminação da covid-19. Adhanom afirmou que os governos deveriam desenvolver políticas para proteger os mais vulneráveis.

“Cresci na pobreza e entendo essa realidade”, escreveu. “Peço que os países desenvolvam políticas públicas para garantir proteção econômica àqueles que não podem ganhar dinheiro ou trabalhar em meio à pandemia da covid-19. Solidariedade!”

A fala de Adhanom não representou uma mudança de postura da OMS em relação ao isolamento social, como as publicações do vídeo da coletiva nas redes sociais insinuam. Em resposta à mesma pergunta feita pela repórter indiana, o diretor do programa de Emergências de Saúde da entidade, Michael Ryan, reforça a importância dos lockdowns para contenção da doença.

“Infelizmente, em algumas situações neste momento, [lockdowns] são a única medida que os governos podem realmente tomar para conter este vírus”, disse Ryan. “É lamentável, mas essa é a realidade e precisamos explicar continuamente as razões para isso às nossas comunidades”.

A assessoria de comunicação da OMS, em resposta ao Comprova, declarou: “o que podemos esclarecer é o que o diretor-geral da OMS disse em suas declarações à imprensa ontem. Ele foi muito claro. Disse que cada país precisa fazer sua própria avaliação [de quais medidas, incluindo restrições de movimento, eles devem implementar], e ao fazer isso eles precisam levar em conta a realidade daqueles que precisam ganhar a vida diariamente e que essas pessoas precisam ser protegidas, cuidadas. A íntegra está aqui (o trecho mencionado por você está a partir de 34:30).

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

O Comprova consultou a transcrição oficial e o vídeo oficial da entrevista coletiva da OMS do dia 30 de março; além da conta oficial de Twitter de Adhanom e da OMS.

Quem publicou o vídeo do diretor-geral da OMS?

O vídeo fora de contexto da fala de Adhanom foi publicado no dia 30 de março às 16h19 com legendas em português no Twitter pelo usuário @RFGlau, que usou o trecho para justificar as opiniões de Bolsonaro em relação ao isolamento social. A conta de @RFGlau foi criada em março deste ano e usa a mesma foto de perfil de outros dois perfis suspensos, @RafaGlau e @RFLGlau.

O mesmo vídeo, com marca d’água de @RFGlau, foi republicado no mesmo dia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e por seus filhos Carlos (vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Social Cristão), Eduardo (deputado federal de São Paulo pelo PSL) e Flávio Bolsonaro (senador do Rio de Janeiro atualmente sem partido). Os deputados federais Osmar Terra (MDB-RS), Bia Kicis (PSL-DF) e Daniel Silveira (PSL-RJ) também divulgaram o clipe.

O vídeo foi reproduzido ainda no canal de YouTube do pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro.

O que Tedros Adhanom Ghebreyesus disse sobre isolamento social de pessoas mais pobres? Leia a transcrição completa:

Uma repórter da Índia fez a seguinte pergunta durante coletiva de imprensa da OMS direcionada ao diretor de Emergências, Michael Ryan:

“Dr. Ryan, deve estar ciente de que a Índia por conta de seu lockdown está testemunhando uma crise humanitária sem precedentes sob a forma de movimento de migrantes de uma parte do país para outro. Eu entendo que você não gosta de comentar sobre decisões individuais de país, mas esta é uma crise humanitária sem precedentes. Qual seria o seu conselho para o nosso governo?”

O diretor do programa de Emergências de Saúde da OMS, Michael Ryan, respondeu o seguinte:

“Voltando ao que acredito ser a parte mais importante da sua pergunta, e que é sobre os impactos das quarentenas, restrições de movimento, número um, precisam ser vistas com muito cuidado e, dois, obviamente que independentemente da sua intenção, são difíceis de serem aceitas pelas comunidades porque as pessoas precisam se movimentar e querem se movimentar pelas famílias, por razões econômicas e outras razões.

É importante que os governos se comuniquem de forma aberta e transparente às pessoas sobre as razões de as quarentenas, fechamentos ou restrições ao movimento estarem acontecendo porque elas colidem com a liberdade de movimento das pessoas. E se as pessoas precisam abrir mão da sua liberdade de movimento, precisam entender porque isso está acontecendo. Restrições ao movimento são lamentáveis em todas as situações. Ninguém quer que elas aconteçam, mas em situações nas quais você tem uma epidemia muito, muito intensa em uma parte do país e em outra parte do país não é tão intensa assim, você pode precisar implementar algum tipo de medida para pelo menos encorajar – Às vezes é uma recomendação, às vezes é uma forte recomendação e às vezes é uma restrição na qual o transporte é suspenso.

Cada governo deve escolher o equilíbrio entre o que é recomendação para as comunidades e, em alguns casos, o que é uma quarentena forçada. Qualquer uma que seja escolhida, é importante que a comunicação e a aceitação da comunidade estejam no centro da preocupação do governo. É impossível ter uma efetiva restrição de movimento sem que a comunidade esteja de acordo com aquela restrição de movimento.

E, como o Tedros Adhanom Ghebreyesus disse no seu discurso, quando tais medidas são postas em prática é excepcionalmente importante que essas medidas sejam realizadas não só com a aceitação da população, mas também com os direitos humanos e a dignidade das pessoas afetadas no centro. Isso nem sempre é fácil, mas é o que deve ser o centro do objetivo do processo. Eu não estou falando especificamente sobre a Índia; estou falando sobre isso em termos gerais, mas penso que o que ele [Tedros Adhanom Ghebreyesus] fala é que essas medidas para toda a sociedade são difíceis, não são fáceis e estão prejudicando as pessoas.

Mas a alternativa é ainda pior se os países forem capazes de se afastar dessa abordagem. Se nós vamos nos afastar disso como estratégia para suprimir o vírus, temos de pôr em prática a saúde pública. A vigilância, o isolamento, a quarentena, as descobertas, a detecção. Temos de ser capazes de mostrar que podemos ir atrás do vírus, porque só os bloqueios não vão funcionar.

Mas, infelizmente, em algumas situações, neste momento, os lockdowns são a única medida que os governos podem utilizar. É preciso desacelerar este vírus e isso é lamentável, mas essa é a realidade e nós precisamos para explicar continuamente as razões para isto às nossas comunidades”.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, complementou a resposta:

“Sobre a questão do chamado lockdown, talvez alguns países já tenham tomado medidas para o distanciamento físico, fechamento de escolas e prevenção de reuniões e assim por diante. Isso pode ganhar tempo mas, ao mesmo tempo, cada país é diferente.

Alguns países têm um forte sistema de bem-estar social e outros não. Eu sou da África, como sabem, e sei que muitas pessoas têm de trabalhar todos os dias para ganhar o seu pão de cada dia. Os governos devem ter em conta esta população; se vamos fechar ou limitar os movimentos, o que vai acontecer às pessoas que têm de trabalhar diariamente e têm de ganhar o pão de cada dia?

Então cada país, com base na sua situação, deve responder a esta pergunta. Não estamos vendo isso como um impacto econômico sobre um país, como uma média de perda do PIB, ou as repercussões econômicas. Temos que ver também o que significa para o indivíduo na rua e talvez eu tenha dito muitas vezes: eu venho de uma família pobre e sei o que significa preocupar-se sempre com o seu pão de cada dia e isso tem que ser levado em conta.

Porque cada indivíduo é importante e como cada indivíduo é afetado por nossas ações tem que ser levado em conta. É isso que estamos dizendo. Trata-se de qualquer país; não se trata da Índia; trata-se de qualquer país da Terra.

Mesmo o país mais rico da Terra pode ter pessoas que precisam trabalhar pelo seu pão de cada dia. Nenhum país é imune. Todos e cada país têm que ter a certeza de que isto é levado em conta”.

Viralização

Os vídeos foram publicados em canais com grande número de inscritos, como do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos. Juntos, os vídeos somam mais de 500 mil visualizações.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Reportagem de TV italiana sobre vírus criado em laboratório chinês não tem relação com a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
A reportagem em questão, na verdade, fala sobre um grupo de cientistas que criou uma versão híbrida de um coronavírus de morcego na China cinco anos atrás e foi baseada em um estudo da revista científica Nature. Em março de 2020, o periódico esclareceu que não há evidências de que esse experimento tenha relação com a pandemia atual e, em análise posterior, pesquisadores afirmaram que o SARS-CoV-2 não foi fabricado em laboratório ou produzido propositalmente

São enganosas as publicações que afirmam que uma reportagem, veiculada em novembro de 2015, pela emissora de TV italiana RAI, demonstra que o novo coronavírus foi criado em um laboratório pelo governo chinês.

A matéria em questão, que fala sobre um grupo de cientistas que criou uma versão híbrida de um coronavírus de morcego na China cinco anos atrás, foi baseada em um estudo da revista científica Nature. Em março de 2020, o periódico esclareceu que não há evidências de que esse experimento tenha relação com a pandemia atual.

Em análise posterior publicada no periódico britânico, pesquisadores afirmaram que o SARS-CoV-2 não foi fabricado em laboratório ou produzido propositalmente.

A alegação verificada neste artigo foi publicada no Twitter em 25 de março pelo ex-vice-premiê da Itália Matteo Salvini e aparece em múltiplos artigos e postagens compartilhados no Facebook, Twitter e YouTube ao menos desde 28 de março.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo que foi retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

Para esta verificação foram consultadas reportagens da mídia italiana, a plataforma digital de vídeos da emissora de TV RAI e estudos publicados pelo periódico científico britânico Nature. Outra fonte de informação foi o site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que diz a reportagem

Para afirmar que o novo coronavírus – que já deixou mais de 38 mil mortos no mundo desde que foi detectado na cidade chinesa de Wuhan em 2019 – foi criado em um laboratório, as publicações utilizam uma reportagem veiculada no quadro sobre ciências de um telejornal da emissora de TV italiana RAI, o TGR Leonardo, em 16 de novembro de 2015.

“Cientistas chineses criaram um supervírus pulmonar a partir de morcegos e ratos. Serve apenas para fins de estudo, mas há muitos protestos. Vale a pena arriscar?”, diz um jornalista ao apresentar a reportagem.

A matéria detalha a maneira como pesquisadores chineses conseguiram criar um organismo modificado “alterando a proteína superficial de um coronavírus encontrado em morcegos” para que este crie uma síndrome respiratória aguda grave (SARS). Segundo a reportagem, o vírus criado em laboratório poderia contagiar humanos, levando a um debate sobre se os aprendizados promovidos por experimentos deste tipo justificariam os possíveis riscos.

Por conter elementos semelhantes aos presentes na pandemia atual, a reportagem passou a ser compartilhada como se provasse que “o novo coronavírus foi criado em um laboratório na China” e que teria “escapado”. Uma busca no Google pelos termos mencionados na reportagem e o nome do programa levou a um artigo da agência de notícias italiana ANSA sobre a recente repercussão da matéria de 2015.

No texto, o diretor do programa TGR Leonardo, Alessandro Casarin, explica que a reportagem foi baseada em uma publicação da revista científica Nature e que “há apenas três dias, a mesma revista deixou claro que o vírus sobre o qual o serviço relata, criado em laboratório, não tem relação com o vírus natural [que causa a ] COVID-19”.

De fato, uma análise dos materiais publicados pela Nature em novembro de 2015 localiza um artigo intitulado, em tradução livre: “Vírus de morcego projetado gera debate sobre pesquisas arriscadas”.

Em março de 2020, uma nota foi acrescentada no topo do texto, afirmando: “Sabemos que essa história está sendo usada como base para teorias não verificadas de que o novo coronavírus que causou a COVID-19 foi projetado. Não há evidências de que isso seja verdade; os cientistas acreditam que um animal é a fonte mais provável do coronavírus”.

Após a reportagem de 2015 começar a ser associada ao novo coronavírus, o programa Porta a Porta, da mesma emissora de TV italiana, convidou um especialista para debater o tema. Na emissão, o professor Fabrizio Pregliasco, especialista em virologia da Universidade de Milão, classificou a possibilidade do novo coronavírus ter “escapado” de um laboratório como uma “teoria da conspiração”.

“Há, pelo contrário, confirmações de que se trata de uma origem natural, através sempre de uma variação de um vírus do morcego. O genoma que foi isolado mostra uma origem natural. Teórica, essa possibilidade entra nas possibilidades de complôs, de teorias da conspiração que são também ligadas ao fato que em Wuhan há um belíssimo laboratório de alta segurança onde acontecem estudos. Mas reforço que, na realidade, essa não seria a origem desse vírus”, afirmou Pregliasco, em tradução livre do italiano.

 

Origem do novo coronavírus

Estudo publicado em 17 de março deste ano no período científico Nature reitera a informação de que o novo coronavírus tem origem natural. “Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus manipulado propositadamente”, afirmaram os pesquisadores.

Como parte do estudo, os autores analisaram a estrutura genética do SARS-CoV-2, concluindo que, se houvesse manipulação genética em laboratório, a estrutura do novo coronavírus seria semelhante a de outros organismos existentes. “No entanto, os dados genéticos mostram irrefutavelmente que o SARS-CoV-2 não é derivado de nenhuma estrutura central de vírus usada anteriormente”, afirma a pesquisa.

Esta possibilidade também é considerada como mais provável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Atualmente, a origem do SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a COVID-19, é desconhecida. Todas as evidências disponíveis sugerem que o SARS-CoV-2 tem uma origem animal natural e que não é um vírus construído”, explica a organização em seu site.

Os primeiros caso de infecção pelo novo coronavírus foram confirmados em dezembro do ano passado na cidade chinesa de Wuhan. A região, que chegou a registrar milhares de novos casos por dia no auge do surto, no fim de fevereiro, foi considerada no último dia 28 de março uma zona de “baixo risco” por uma fonte do governo local. No restante do mundo, países intensificam as medidas de confinamento para controlar a doença.

Viralização

A alegação de que a reportagem de 2015 da TV italiana comprovaria que o novo coronavírus foi gerado em um laboratório na China circulou amplamente pelo WhatsApp e foi enviada ao Comprova por meio do número (11 97795-0022).

O vídeo, acompanhado da mesma afirmação, foi compartilhado mais de 4 mil vezes em postagens no Facebook e Twitter, desde 28 de março. A mesma alegação acumula mais de 54 mil visualizações no YouTube, além de ter sido publicada em artigo com 9.627 interações no Facebook.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Limão com bicarbonato não cura covid-19 e pode fazer mal à saúde

  • Falso
Falso
Ao contrário do que afirma a corrente, o Ministério da Saúde diz que ainda não existe vitamina, terapia alternativa ou remédio licenciado capaz de evitar o contágio ou tratar a doença. Especialistas informam que ingerir a mistura em excesso pode causar prejuízos à saúde. O sódio presente no bicarbonato pode ser prejudicial para pessoas que apresentam problemas cardiovasculares, além de poder aumentar a pressão arterial em indivíduos saudáveis

É falso que a mistura de limão com bicarbonato de sódio cure a covid-19, ao contrário do que afirma uma corrente que circula no WhatsApp e nas redes sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, ainda não existem tratamentos ou remédios específicos comprovadamente capazes de curar pacientes com o novo coronavírus.

O texto do boato afirma também que a cura foi anunciada por Israel, onde o vírus não teria causado nenhuma morte. Isso não é verdade. De acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, até esta terça-feira, 31, foram registradas 17 mortes causadas pela covid-19 no país do Oriente Médio. Ao todo, são 4.831 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus até essa data.

O Comprova analisou publicações em perfis e páginas de Facebook e mensagens compartilhadas por WhatsApp.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

O Comprova consultou materiais sobre coronavírus divulgados pela OMS e pelo Ministério da Saúdee dados de infecção compilados pela Universidade Johns Hopkins. Também entramos em contato com o farmacêutico Leandro Medeiros, que coordena um observatório sobre covid-19 na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

Ainda não existe cura para coronavírus

A OMS informa que não há evidências de que os remédios existentes possam curar a covid-19, ainda que certos medicamentos ou tratamentos caseiros possam aliviar os sintomas causados.

Da mesma forma, o Ministério da Saúde afirma que “não existe vitamina, terapia alternativa ou remédio licenciado capaz de evitar o contágio ou tratar a doença”. Os médicos tratam os sintomas para evitar o agravamento da doença e reduzir o desconforto dos pacientes.

Consultado pelo Comprova, o farmacêutico Leandro Medeiros, da Unicap, afirmou que a mensagem “não tem fundamento algum”. “Até então, não há estudos científicos que comprovem este benefício do limão e do bicarbonato, o que é necessário para gerar uma recomendação de uso”, disse ele. “Ainda que o limão contenha nutrientes importantes para o sistema imunológico, como a vitamina C, a inexistência destes estudos feitos em seres humanos coloca em xeque esta afirmação”.

Medeiros também alertou que ingerir a mistura em excesso pode causar prejuízos à saúde. O sódio presente no bicarbonato pode ser prejudicial para pessoas que apresentam problemas cardiovasculares, além de poder aumentar a pressão arterial em indivíduos saudáveis.

O farmacêutico destacou ainda que bicarbonato em excesso pode prejudicar a função dos rins e causar a chamada alcalose metabólica, que resulta em irritabilidade, contrações e cãibras musculares.

A cura vem de Israel?

O texto do boato afirma que os israelense bebem limão e bicarbonato como se fosse um chá quente; por isso, ninguém por lá estaria preocupado com a doença. Isso não é verdade. Até esta terça-feira, 31, foram registrados 4.831 casos da covid-19 em Israel, com 17 mortes. O país tem mais registros que o Brasil.

Como o Comprova mostrou em checagem publicada em 27 de março, a nação do Oriente Médio adotou diversas medidas de isolamento social para contenção do vírus. Em 25 de março, o governo israelense estabeleceu a proibição de sair de casa, exceto em casos urgentes, e o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais e parques.

Não há nenhuma evidência que Israel aprove o uso de limão com bicarbonato de sódio. Na página do Ministério da Saúde israelense, as recomendações são as mesmas que no restante do mundo: ficar em casa, lavar as mãos e se dirigir a um serviço médico em caso de sintomas como febre e dificuldade de respirar.

Viralização

Leitores solicitaram a checagem deste texto por meio do WhatsApp (11 97795-0022). O boato também foi compartilhado no Facebook. Em um dos perfis pessoais,a mensagem obteve 512 compartilhamentos até a manhã do dia 31 de março.

Fato ou Fake, Snopes e Reuters também checaram esta corrente.

Saúde

Investigado por: 2020-03-30

É falsa a corrente que fala em “etapa máxima de infecção” pelo novo coronavírus até 3 de abril

  • Falso
Falso
Segundo especialistas, o Brasil ainda está no início da curva de crescimento da covid-19. E não está proibido sair de casa, o Ministério da Saúde só recomenda que as pessoas evitem ao máximo sair de casa. Cada Estado brasileiro está adotando medidas próprias de quarentena, como o fechamento de serviços não essenciais

É falsa a mensagem compartilhada no WhatsApp e nas redes sociais que recomenda à população o total isolamento até o dia 3 de abril, prazo da “etapa de máxima infecção” do coronavírus. De acordo com especialistas consultados pelo Comprova, o Brasil ainda está no início da curva de crescimento da covid-19 e não há previsão de pico no número de infecções.

O Ministério da Saúde também disse desconhecer as informações disseminadas na mensagem viral.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova entrou em contato com o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por especialistas das seguintes instituições: Departamento de Engenharia Industrial e Instituto Tecgraf (PUC-Rio); Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal); Divisão de Pneumologia do InCor (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo); Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro; Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino; e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Também consultamos o Ministério da Saúde, além de recomendações de quarentena em diferentes localidades e reportagens sobre projeções de evolução de casos da covid-19.

Etapa de máxima infecção?

O texto que circula no WhatsApp e nas redes sociais afirma que entre os dias 23 de março e 3 de abril ocorrerá a “etapa de máxima infecção” do coronavírus e por isso a recomendação é não sair de casa “para nada”, “nem para ir comprar pão”. Isso não é verdade, de acordo com especialistas consultados pelo Comprova.

O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), que faz projeções sobre a evolução no número de casos de covid-19 no País, informou, por e-mail, que não há como prever quando ocorrerá o pico da pandemia no Brasil.

Os estudos do NOIS comparam a disseminação do novo coronavírus no Brasil com a de outros países, a partir do momento em que cada nação registrou 50 casos (chamado de dia zero ou D0).

“O Brasil começou o D0 em 11 de março, ainda está no início da curva de crescimento da doença e não há como prever quando será o pico. Nem mesmo os países europeus chegaram a esse ponto”, comunicou o NOIS.

A mensagem disseminada no WhatsApp afirma ainda que a “etapa de máxima infecção” duraria duas semanas, depois das quais ocorreriam “duas semanas de calmaria” e só então, depois de mais duas semanas, os casos diminuíram.

Segundo o NOIS, essa lógica também não faz sentido. Nos Estados Unidos, 30 dias depois do “D0”, o crescimento no número de infecções pela covid-19 ainda era grande. Atualmente, o país tem o maior número de casos no mundo, superando a marca de 156 mil nesta segunda-feira, 30.

Na China, a pior fase da epidemia terminou 23 dias após o registro dos 50 casos iniciais. Passados 32 dias do “dia zero”, o número de casos diários caiu para menos de 500, e, depois de 45 dias, a menos de 100.

Na Itália, após 31 dias do “D0”, percebeu-se uma diminuição no número de novos casos, mas de acordo com o NOIS, “ainda não é possível determinar se o número de novos casos irá diminuir”.

O NOIS afirma que a evolução no número de infectados pelo coronavírus no Brasil depende das medidas tomadas para contenção da doença: “Se as medidas de isolamento e contenção propostas pelos Estados forem respeitadas, podemos considerar um crescimento da epidemia melhor do que na França”.

“Se a população seguir o que foi preconizado pelo presidente Bolsonaro, ou seja, reabertura do comércio e escolas, a trajetória da epidemia pode seguir a de países como Espanha, onde as medidas de isolamento foram tardias”, informou o grupo de estudos.

É importante destacar que as projeções sobre coronavírus mudam rapidamente; as respostas do NOIS foram enviadas ao Comprova no sábado, 27.

Nesse mesmo dia, o Grupo de Resposta à Covid-19 do Imperial College de Londres divulgou um estudo que previa 529 mil mortes no Brasil caso fossem adotadas apenas medidas de isolamento de idosos; com distanciamento social intensivo, o número de óbitos varia entre 44 mil e 206 mil, dependendo da data em que a estratégia é iniciada.

Recomendação é ‘não sair de casa nem pra comprar pão’?

O Ministério da Saúde pede que as pessoas evitem ao máximo sair de casa, principalmente as mais velhas. De acordo com a pasta, “reduzir a circulação é extremamente importante para diminuir a transmissão do coronavírus”.

Isso não quer dizer, no entanto, que é proibido sair de casa. A recomendação do Ministério é simplesmente evitar aglomerações. Ou seja, passear com o cachorro, correr sozinho, levar o filho ao parquinho — tudo isso é permitido, desde que se evite juntar pessoas e que se tome as medidas adequadas de higiene.

Ao chegar em casa, é preciso lavar as mãos, tirar os sapatos e deixar a casa bem arejada: medidas básicas de higiene.

Cada Estado brasileiro está adotando medidas próprias de quarentena, como o fechamento de serviços não essenciais. Em São Paulo, por exemplo, a quarentena vai até 7 de abril e tem como objetivo evitar aglomerações de pessoas.

Viralização

Leitores do Comprova solicitaram a checagem do boato por WhatsApp (11 97795-0022). O texto também foi divulgado no Facebook, onde obteve 62 mil compartilhamentos desde o dia 27 de março.

Saúde

Investigado por: 2020-03-30

Vídeos de Osmar Terra são compartilhados como se fossem do ex-ministro Adib Jatene

  • Falso
Falso
Vídeos do deputado Osmar Terra defendendo o isolamento vertical circulam nas redes atribuídos erroneamente ao cardiologista Adib Jatene, falecido em 2014

São falsos os vídeos que atribuem ao falecido médico e ex-ministro da Saúde Adib Jatene a defesa do chamado isolamento vertical, estratégia assumida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como política oficial para enfrentar o novo coronavírus. Quem aparece nas imagens, na verdade, é o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS).

Essa verificação foi realizada com base em buscas reversas de dois vídeos encontrado pelo Comprova atribuídos ao ex-ministro.

Depois de um pronunciamento em rede nacional realizado na terça-feira, 24, o presidente da República passou a defender o isolamento vertical, em que apenas idosos e pessoas em grupo de risco sejam mantidos isolados durante a pandemia de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Os demais cidadãos, segundo Bolsonaro, deveriam voltar às “atividades normais” para reduzir os impactos econômicos do isolamento social.

Desde o pronunciamento do presidente, circulam nas redes sociais dois vídeos diferentes, ambos creditados ao famoso médico cardiologista. Adib Jatene, contudo, morreu em 14 de novembro de 2014.

Jatene foi secretário estadual da Saúde de São Paulo e ministro da Saúde nas gestões Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Também foi diretor-geral do Hospital do Coração, em São Paulo, e um dos pioneiros da cirurgia cardíaca no Brasil.

Em alguns dos textos que acompanham os vídeos, Adib é creditado como infectologista, o que também é falso. Ele foi um médico conhecido pela sua especialização em cardiologia e respeitado pelos serviços público e acadêmico prestados. Apesar de ter assumido cargos públicos, nunca foi filiado a nenhum partido político.

Quem aparece nos vídeos é, na realidade, um aliado de Bolsonaro. Trata-se de Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania do governo Bolsonaro. No último dia 21, Terra, publicou em seu canal no YouTube um vídeo em que defende algumas medidas alinhadas ao posicionamento do presidente da República, como, por exemplo, o fim da quarentena e o isolamento vertical para que a economia não seja prejudicada. Este vídeo, por sua vez, foi relacionado várias vezes na internet a Adib Jatene, falecido em 2014.

Além de ex-ministro, Terra é médico e está no sexto mandato como deputado federal. Alinhado ao discurso do presidente da República, vem defendendo diariamente em postagens e entrevistas as medidas propagadas por Bolsonaro, que contrariam as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e também do Ministério da Saúde. Outro vídeo de Osmar Terra com circulação alta e creditado a Jatene é um discurso que o deputado fez na Câmara, no último dia 18, com o mesmo tom e argumentos parecidos a favor do isolamento vertical.

Como verificamos

Osmar Terra é uma figura pública reconhecida, é deputado federal pelo estado do Rio Grande do Sul e aliado do presidente Jair Bolsonaro. A partir da identificação, buscamos nas redes sociais do deputado pronunciamentos a respeito do novo coronavírus. As entrevistas e declarações sobre o tema também estão disponíveis no perfil dele no Twitter, possibilitando o cruzamento com os vídeos que circulam. Em consulta na internet é possível localizar as imagens do político.

Sobre Adib Jatene foi possível identificar sua história e biografia com buscas na internet. Apenas usando no nome dele em buscadores é simples encontrar reportagens sobre o cardiologista e sobre as instituições das quais ele participava. Estão na internet, por exemplo, diversas reportagens sobre a morte dele, publicadas por jornais como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e portal G1.

Diferença entre os isolamentos

A orientação majoritária dos epidemiologistas e infectologistas tem sido pelo distanciamento social máximo possível, em que apenas os serviços considerados essenciais são mantidos. As medidas são de precaução para minimizar o período e a intensidade do colapso do sistema de saúde. Essa política é chamada de “isolamento horizontal”.

O que médicos como Osmar Terra argumentam, apesar de escassos dados disponíveis, é que seria possível conter a doença reduzindo as massivas perdas econômicas que o modelo de contenção pode causar.

Viralização

O Comprova recebeu o vídeo pelo seu canal no WhatsApp e no Twitter, onde há o registro de dezenas de publicações do suposto vídeo relacionado ao famoso médico cardiologista morto em 2014.