O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2023-11-01

Transportados pela FAB, alimentos doados pelo MST foram destinados a palestinos, não ao Hamas

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Enganoso
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) enviou, no dia 30 de outubro, cerca de duas toneladas de alimentos para o fornecimento de assistência humanitária aos palestinos na Faixa de Gaza no contexto da guerra entre Hamas e Israel. O carregamento foi feito em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e levou arroz, farinha de milho e leite em pó para ajudar a população civil, e não o Hamas, como alegam publicações nas redes sociais. Os mantimentos foram entregues ao movimento humanitário sem vínculo estatal Crescente Vermelho, um braço da Cruz Vermelha, que acessaria a região a partir da fronteira com o Egito.

Conteúdo investigado: Publicações usam imagens de integrantes do MST segurando alimentos ao lado de duas bandeiras, uma do próprio movimento e outra da Palestina. Há uma legenda com os dizeres: “Quem iria desconfiar que o MST está doando alimentos para o Hamas que está sendo transportado pela FAB…”.

Onde foi publicado: Telegram e no X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: Publicações enganam ao afirmar que alimentos doados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB) seriam destinados para o grupo Hamas, em conflito armado desde o início de outubro com Israel. Os mantimentos que deixaram o Brasil no último dia 30, com destino ao Egito, serão para ajuda humanitária a palestinos na Faixa de Gaza, uma das áreas mais afetadas pela guerra.

Pelas redes sociais, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, explicou que o avião enviado para “continuar o trabalho de repatriação dos brasileiros” que estão na zona de guerra foi utilizado também para enviar ajuda humanitária. A explicação também foi publicada na Agência Gov.

O avião enviado irá substituir outra aeronave presidencial de mesmo porte que está no Cairo, capital do Egito, há duas semanas, aguardando para fazer a repatriação de brasileiros que estão na Faixa de Gaza. O veículo que estava na cidade egípcia tem manutenção programada no Brasil agendada para os próximos dias e precisa retornar.

O carregamento incluiu arroz, açúcar, derivados de milho e leite em pó produzidos pelas famílias do MST em todo o Brasil. O movimento ressaltou que pretende enviar 100 toneladas de alimentos para os territórios ocupados por palestinos, em ações viabilizadas com apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE), como aconteceu neste caso. A FAB confirmou o transporte, mas ressaltou que cuidou apenas do translado dos alimentos e que o avião já chegou ao destino, em Cairo, no Egito. No entanto, a logística de preparo foi feita pelo governo brasileiro por meio do MRE.

Em comunicado à imprensa, o ministério informou que o governo federal e a sociedade civil estariam fazendo “nova contribuição para os esforços internacionais de assistência humanitária aos afetados pelo conflito na Faixa de Gaza, com a doação de 2 toneladas de alimentos oferecida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra”.

Ao Comprova, a pasta reiterou o posicionamento e explicou que os alimentos foram entregues ao Crescente Vermelho, um braço da Cruz Vermelha, movimento humanitário não vinculado a qualquer Estado e cuja atuação é amparada pela Convenção de Genebra, documento internacional adotado em 1949 que estabelece as regras destinadas a proteger as vítimas da guerra. A entidade assumiu a responsabilidade de coordenar a logística de transporte, o cruzamento da fronteira e as entregas em Gaza. O mesmo foi feito quando o Brasil enviou 40 purificadores de água em 16 de outubro.

Assim como na primeira entrega, a Embaixada do Brasil no Egito comunicou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio sobre o envio das doações e o Crescente Vermelho, que organiza a entrega. A aeronave aguardava, até 31 de outubro, a autorização para decolar para o aeroporto Al-Arish, que fica a pouco mais de 50 quilômetros da passagem de Rafah, na fronteira entre Egito e Gaza. O Crescente Vermelho faz a entrega dos materiais em caminhões, mas depende de autorização das autoridades israelenses.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 1º de novembro, foram mais de 160 mil visualizações, 5 mil curtidas e mil compartilhamentos no X (antigo Twitter). No Telegram, foram mais de 15,5 mil visualizações.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca no Google com os termos “avião MST alimentos” e fomos direcionados para diversas matérias de veículos de comunicação abordando o envio dos alimentos. Consultamos também o site oficial do MST, que, no dia 31 de outubro, dava destaque às informações sobre o envio dos mantimentos. Entre os conteúdos encontrados no portal, está uma das fotos usadas na peça de desinformação, dos integrantes do movimento fazendo a entrega dos alimentos ao lado da bandeira do MST e da Palestina.

Entramos também em contato com Ministério das Relações Exteriores (MRE) e com a Força Aérea Brasileira (FAB) para saber mais informações sobre a entrega dos produtos.

ONU alerta risco de fome generalizada em Gaza

O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) alertou, em 12 de outubro, que comida e água potável estão em quantidade perigosamente baixa na Faixa de Gaza. O anúncio aconteceu dois dias depois de Israel anunciar um bloqueio total ao território, em resposta aos ataques do Hamas ao país. Diante da crise, a agência alimentar de emergência da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu a criação de corredores humanitários para levar alimentos para a região.

“É uma situação terrível a que estamos vendo evoluir na Faixa de Gaza, com alimentos e água escassos e esgotando rapidamente”, disse Brian Lander, vice-chefe de emergências do PMA, à Reuters. Na ocasião, ele ainda frisou que o PMA fornece alimentos a milhares de pessoas que procuram por abrigos em escolas e em outros locais de Gaza, mas que “ficaremos sem comida muito em breve”. Em 15 de outubro, a agência alimentar voltou a alertar para o risco de fome generalizada.

Israel anunciou um cerco total à Faixa de Gaza com o bloqueio de alimentos, combustível e água no território palestino e fechando pontos de passagem após o ataque do Hamas em 7 de outubro. Em cerca de 25 dias de conflito, o número de vítimas passa de 9,7 mil – sendo 8.306 palestinos e 1.405 israelenses, segundo dados dos governos e demais autoridades locais.

Como publicou o G1, um representante do governo de Israel disse que “não há falta de comida em Gaza” e que há água e serviços médicos suficientes para a população da região. No entanto, no último dia 29, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), que presta serviços públicos e ajuda humanitária na região, reforçou a falta de suprimentos e a insuficiência de recursos que chegam em Gaza pelo Egito.

O que é o Hamas?

O post analisado alega que os alimentos serão enviados ao Hamas, em uma generalização sobre a população de Gaza. No entanto, enquanto o Hamas possui cerca de 30 mil combatentes, segundo dados israelenses, a população da região é de cerca de 2,2 milhões de pessoas.

A organização fundamentalista Hamas se define como um movimento de resistência baseado no Alcorão, o livro sagrado da religião islâmica. O grupo controla a Faixa de Gaza desde 2006, quando assumiu a região após uma disputa violenta com o Fatah, que hoje governa a Cisjordânia, o outro território palestino ocupado por Israel. Em 2006, o Hamas venceu as eleições gerais palestinas, mas o Fatah não aceitou ceder o comando da Autoridade Nacional Palestina (ANP), o que engolfou os dois partidos em um confronto.

O Hamas foi criado durante a Primeira Intifada palestina, um movimento contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. A carta que sinaliza sua fundação, de 1988, rechaça a existência do Estado de Israel. O Projeto Comprova já esclareceu que a Autoridade Palestina e o Hamas não são o mesmo grupo.

Brasil não classifica Hamas como grupo terrorista

O governo federal não considera o Hamas como organização terrorista, seguindo a visão da ONU, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 27 de outubro. A decisão segue o posicionamento histórico do Brasil em concordar com a classificação do Conselho de Segurança da organização.

O presidente declarou que “a posição do Brasil é a mais clara e nítida possível”. “O Brasil só reconhece como organização terrorista aquilo que o Conselho de Segurança da ONU reconhece, e o Hamas não é reconhecido pelo Conselho como organização terrorista, porque ele disputou eleições na Faixa de Gaza e ganhou”, disse a jornalistas. Apesar da definição, Lula afirmou que o país vê as ações do grupo islâmico como atos terroristas.

Países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e membros da União Europeia classificam o Hamas como grupo terrorista. No entanto, Noruega, Suíça, Rússia e China, assim como o Brasil, não adotam essa definição e mantêm um princípio de neutralidade, atuando como mediadores em conflitos.

Em 18 de outubro, os EUA rejeitou o texto proposto pelo Brasil sobre a guerra entre Israel e o Hamas. O país havia elaborado uma resolução que seria a primeira manifestação formal da ONU sobre o conflito no Oriente Médio. A proposta brasileira condenava os ataques terroristas do Hamas e cobrava Israel – sem mencioná-lo – pelo fim do bloqueio à Gaza. Com a rejeição estadunidense, o texto foi vetado no Conselho de Segurança.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou entrar em contato com o perfil que publicou o conteúdo no X e também pelo email da página, disponibilizado na descrição do grupo no Telegram. Em nenhum dos dois canais houve resposta até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Em meio ao conflito entre Israel e Hamas, muitas publicações usam o momento para espalhar desinformação. Neste caso, o post usa informações reais de forma enganosa para levar a uma interpretação diferente da verdadeira. Há uma distorção sobre os civis palestinos que vivem na Faixa de Gaza, com a sugestão falsa de que todos seriam integrantes do Hamas. Em situações como essa, é importante procurar por informações confiáveis e seguras para entender o que, de fato, está sendo informado, além de verificar se a alegação é verdadeira ou não.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde o início do conflito armado entre o grupo Hamas e Israel, diversas peças de desinformação passaram a circular nas redes sociais. O Comprova já mostrou que é falso que integrantes do grupo extremista chegaram ao Brasil e que o governo federal doou R$ 25 milhões à Autoridade Palestina para ajuda humanitária, e não ao Hamas. O MST também já foi alvo de verificações do Comprova, como a que afirma que policiais foram expulsos pelo movimento de protesto em rodovia no Paraná, e não feitos reféns, e que post engana ao associar ao movimento plantação de maconha na Bahia.

Política

Investigado por: 2023-10-31

Nobel da Paz só divulga indicados ao prêmio após 50 anos, diferentemente do que alega post sobre Lula

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Enganoso
Não é possível afirmar, como fazem publicações disponíveis em redes sociais, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocupou a 299ª posição na disputa pelo Nobel da Paz. Os conteúdos investigados aqui enganam pois não há como saber se alguém foi indicado ou em qual posição teria ficado caso tivesse sido, porque a organização do prêmio só divulga essas informações após 50 anos da data da cerimônia de entrega. Em 2019, houve uma movimentação para que Lula fosse indicado, época em que teve início a circulação de peças de desinformação sobre este tema, que voltaram à tona agora, após a entrega do prêmio de 2023.

Conteúdo investigado: Em um vídeo, um homem está reagindo e dando risada ao ler o tweet “Lula ficou no 299° lugar entre os 301 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz. Eu fico pensando que ainda tem mais dois indivíduos pior que ele [sic]?!”. Um segundo conteúdo traz o mesmo texto, mas com emojis de risada e uma imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post que afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou na 299ª colocação para o prêmio Nobel da Paz, organizado pelo Comitê Norueguês do Nobel. Um boato a respeito disso circula desde 2019, quando o ativista e escultor argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Nobel da Paz em 1980, iniciou uma campanha para que Lula fosse indicado ao prêmio. Como um dos ganhadores da honraria, Esquivel tem a prerrogativa de fazer uma indicação, como prevê o estatuto da organização. Este ano, após o prêmio ser outorgado à iraniana Narges Mohammadi, o conteúdo voltou a circular.

Na realidade, não há como saber se a nomeação realmente aconteceu porque o Comitê só divulga os nomes selecionados após 50 anos de quando o prêmio é entregue. Também não é possível saber se, caso indicado, em qual posição Lula terminou. As suposições acerca do prêmio são, segundo o Comitê, “produto de pura especulação ou de informações divulgadas pela pessoa ou pessoas por trás da nomeação”.

Os integrantes da comissão discutem todas as nomeações qualificadas e, então, é criada uma lista dos candidatos mais “interessantes e dignos”. Os candidatos da lista restrita são então sujeitos a avaliações e exames realizados pelos conselheiros permanentes do Comité Nobel, juntamente com outros especialistas noruegueses ou internacionais.

Segundo a organização, o Comitê procura alcançar consenso na seleção do laureado. Nas raras ocasiões em que isso se revela impossível, a decisão é tomada por maioria simples de votos. Apenas o nome do vencedor é anunciado. A informação foi reforçada pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) que reiterou, por meio de nota, que os nomes não são divulgados até serem completados 50 anos da premiação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de outubro, as duas publicações no TikTok somavam mais de 10,4 mil visualizações, 1,3 mil curtidas e 269 comentários.

Como verificamos: Em primeiro lugar, buscamos as palavras-chave “Lula Nobel da Paz” no Google, encontrando matérias (Terra, Veja) sobre a indicação do presidente ao prêmio em 2019, mas sem informações sobre a colocação dele. Encontramos também o abaixo-assinado online produzido pelo ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, que fez campanha para a indicação de Lula à premiação.

Pesquisamos no site oficial do Prêmio Nobel por informações sobre como é feita a indicação aos prêmios e as relações finais de colocações. Entramos em contato com a organização homônima, com a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal e tentamos contato com os autores das peças de desinformação.

Como é a nomeação ao Nobel da Paz

Desde 1901, a Fundação Nobel concede a honraria às pessoas que desenvolvem ações e pesquisas em benefício da humanidade. O Prêmio Nobel é fruto do desejo póstumo de Alfred Nobel, um cientista sueco que inventou a dinamite e outros explosivos. Em seu testamento, alterado pela última vez em 1895, ele atribuiu parte de sua fortuna à distribuição de prêmios anuais para benfeitores humanitários.

As nomeações para o Nobel da Paz podem ser feitas por qualquer indivíduo que cumpra um dos nove critérios previstos no estatuto da organização, através de um formulário online. Os nomeadores qualificados devem ser membros de determinadas instituições ou integrar as seguintes categorias:

  • Assembleias nacionais e governos nacionais (membros do gabinete/ministros) de estados soberanos, bem como atuais chefes de estado;
  • Tribunal Internacional de Justiça de Haia e do Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia;
  • l’Institut de Droit International;
  • Conselho Internacional da Liga Internacional das Mulheres pela Paz e Liberdade;
  • Professores universitários, professores eméritos e professores associados de história, ciências sociais, direito, filosofia, teologia e religião; reitores e diretores universitários (ou seus equivalentes); diretores de institutos de pesquisa para a paz e institutos de política externa;
  • Pessoas que receberam o Prêmio Nobel da Paz;
  • Conselho de administração principal ou equivalente de organizações que receberam o Prêmio Nobel da Paz;
  • Membros atuais e antigos do Comitê Norueguês do Nobel;
  • Ex-conselheiros do Comitê Norueguês do Nobel.

Os candidatos elegíveis e os ganhadores do prêmio são selecionados pelo Comitê Norueguês do Nobel, composto por cinco pessoas nomeadas pelo Storting (parlamento norueguês). De acordo com as informações disponíveis no site da fundação, do mês de setembro até o dia 31 de janeiro, o comitê recebe as indicações dos nomeadores qualificados. Entre fevereiro e março, os trabalhos dos candidatos são avaliados e é gerada uma lista restrita, que é encaminhada para a revisão do conselheiro.

Já no início de outubro, o comitê escolhe os vencedores através de uma votação e os resultados são anunciados. A cerimônia de entrega do prêmio acontece em 10 de dezembro, em Oslo, capital da Noruega. Os ganhadores recebem uma medalha, um diploma, além de um valor em dinheiro.

Em 2019, ano em que ocorreu a campanha para que Lula fosse um dos indicados ao prêmio, foram registrados 301 candidatos, sendo 223 indivíduos e 78 organizações. Já neste ano de 2023, foram 351 candidaturas no total. Esse é o segundo maior quantitativo de candidatos de todas as edições, segundo a fundação. Em 2016, a organização recebeu 376 indicações.

Além do Nobel da Paz, a fundação homenageia quem contribui para as áreas da Literatura, Física, Medicina e Química. Em 2023, o Comitê Norueguês do Nobel decidiu oferecer o Prêmio Nobel da Paz à Narges Mohammadi, de 51 anos, uma ativista conhecida por lutar contra a pena de morte no Irã.

Indicação de Lula em 2019

Desde 2019, circula a mensagem apresentada nos conteúdos investigados, primeiramente publicada no X (antigo Twitter). A data dessa postagem antiga, de 11 de outubro de 2019, é a mesma do anúncio do Nobel da Paz daquele ano, dado ao primeiro-ministro da Etiópia Abiy Ahmed Ali. A honraria lhe foi concedida por sua atuação como responsável por um acordo de paz entre o país e a vizinha Eritreia, encerrando um impasse militar que durou de 1998 a 2008, mesmo com acordo de paz em 2000. O prêmio contou com 301 indicados, assim como descrito no conteúdo analisado.

Um dos motivos para o início da circulação desse conteúdo – a postagem inicial no X conta hoje com mil republicações, cinco mil curtidas e 465 comentários – se deve pela campanha para que o petista fosse indicado ao prêmio para a edição daquele ano, como foi confirmado ao Comprova pela Secom. A movimentação foi iniciada pelo ativista e escultor argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Nobel da Paz em 1980 pela sua atuação de defensor dos direitos humanos contra as ditaduras latinoamericanas.

Em abril de 2018, o argentino deu início a um abaixo-assinado online para que Lula recebesse a honraria de Nobel da Paz no ano seguinte, justificando-o pelo “seu compromisso social, sindical e político, desenvolveu políticas públicas para superar a fome e a pobreza em seu país, uma das desigualdades mais estruturais do mundo”, como explicado na própria petição.

A indicação por parte de Esquivel é possível por ele ser um nomeador qualificado para tal, justamente por ter vencido a premiação. Ao todo, o texto recebeu 650.250 assinaturas. Não é possível saber, contudo, se a nomeação foi efetivamente realizada ou se chegou às fases finais do prêmio, tendo em vista a confidencialidade dos nomes indicados durante 50 anos – o que só seria divulgado, portanto, em 2069.

50 anos de confidencialidade

O estatuto da Fundação Nobel define que as nomeações recebidas para o prêmio, assim como as avaliações e pareceres relativos à atribuição da honraria, não podem ser divulgadas até que sejam completados 50 anos desde que o prêmio foi entregue.

O Comitê Norueguês também não pode divulgar antes desse prazo a identidade dos nomeadores. O órgão permitirá o acesso ao material que serviu de base para a avaliação e decisão relativa ao prêmio, “após devida consideração de cada caso individual, […] para fins de pesquisa em história intelectual”, mas isso não pode ocorrer até que tenham se passado pelo menos 50 anos da decisão. Os pedidos de acesso devem ser encaminhados ao comitê responsável pela oferta dos prêmios.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou entrar em contato com os dois perfis que publicaram o conteúdo no TikTok, mas não obteve retorno. Uma das contas foi suspensa e não poderia receber a mensagem. Foi enviada mensagem para um perfil no Facebook com nome e fotos semelhantes de um dos autores das publicações, mas também não houve resposta.

O que podemos aprender com esta verificação: O presidente e o PT são alvos comuns de desinformação. Neste caso, o conteúdo investigado se utiliza de um contexto recente, uma vez que a vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2023 foi anunciada neste mês de outubro, mas engana ao utilizar informações de anos atrás, referentes à campanha para a indicação de Lula em 2019. É também recomendável desconfiar de informações “sensacionais” ou “exclusivas” compartilhadas apenas por perfis comuns em redes sociais. No caso desta verificação, o responsável pelo post não fornece a fonte da sua informação, o que é comum em postagens enganosas. Quando isso acontece, faça uma busca pelas principais palavras-chave da postagem no Google ou em outro buscador de sua preferência para confirmar a informação com outras fontes como o site do prêmio ou em veículos de comunicação de sua confiança.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O nome do presidente Lula é citado em uma série de peças de desinformação que já foram verificadas pelo Comprova. Recentemente, a iniciativa mostrou que Biden não disse que Lula deveria se preocupar com comida para brasileiros em vez da guerra, que o presidente não instituiu banheiro unissex nas escolas e que vídeo não mostra Putin criticando o brasileiro após encontro com Zelensky.

Saúde

Investigado por: 2023-10-30

Estudo não prova relação entre vacinados por covid-19 e mortes por câncer na Inglaterra

  • Falso
Falso
Pesquisa com dados de mortes por câncer na Inglaterra não demonstrou aumento “monstruoso” nos óbitos por conta da vacinação por covid-19, como afirma postagem no X. Não há no estudo qualquer dado que sustente a relação de causalidade entre o crescimento no número de mortes por câncer e o imunizante. Estudos científicos e entidades médicas britânicas apontam que o aumento de mortes por câncer em 2021 e 2022 se deu por conta do impacto da pandemia no sistema de saúde, que fez com que pessoas doentes abandonassem os tratamentos ou precisassem postergar diagnósticos.

Conteúdo investigado: Postagem afirma que houve um aumento “monstruoso” de tumores malignos entre 2021 e 2022 entre pessoas jovens na Inglaterra, que chegaria “perto de 50%”, e de mortes por causas cardiovasculares. A autora afirma que o Ministério da Saúde britânico atribui isso à Covid longa, mas que o fenômeno teria sido causado, na verdade, pela “terapia genética, rotuladas [sic] como vacina anti-Covid — a verdadeira causadora desta explosão de doenças e mortes”. O post traz dois gráficos com legenda em inglês e o link para uma pesquisa que supostamente identificou o problema.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: Não há provas de que as vacinas contra a covid-19 tenham causado um aumento de mortes por tumores malignos e doenças cardiovasculares entre pessoas mais jovens na Inglaterra, como alega um post no X.

O conteúdo verificado usa como base uma publicação no site de uma gestora de investimentos que repete a formatação de um estudo científico e mostra o suposto aumento expressivo do número de mortes em excesso (óbitos a mais do que o esperado para determinado período) por câncer de pessoas com idade entre 15 e 44 anos na Inglaterra e no País de Gales em 2021 e 2022.

Na conclusão do artigo, o autor afirma adotar a hipótese de que o aumento das mortes em excesso de câncer seria um dos efeitos negativos de médio a longo prazo das vacinas contra a covid-19. Não há ao longo do texto, contudo, detalhamento sobre essas vítimas de câncer terem sido vacinadas ou não. Também não há qualquer outro dado que sustente a relação de causalidade proposta por ele, de que as vacinas seriam o motivo desses óbitos.

A empresa que publica o suposto estudo e um dos seus sócios já produziram outros conteúdos antivacina em inglês que foram desmentidos por organizações de checagem internacionais.

A autora da postagem no X diz que o aumento das mortes por tumores malignos teria chegado perto de 50%. A publicação citada por ela sequer faz menção, no entanto, à variação do número absoluto de óbitos. O texto no site da gestora de investimentos trata de mortes em excesso, calculadas com base em método do próprio autor, o que, isoladamente, também não permite atribuir causas à vacinação.

Segundo dados levantados pelo Comprova junto ao Office For National Statistics (ONS, na sigla em inglês), órgão britânico responsável pela gestão de dados locais oficiais, houve aumento no número de óbitos por câncer na Inglaterra e no País de Gales em 2021 e 2022 de 1,4% e de 4,3%, respectivamente.

Também de acordo com dados do ONS tabulados pelo Comprova, houve 1.744 mortes de câncer consideradas em excesso na Inglaterra e País de Gales entre 2021 e 2022, o que representou 0,57% do total de óbitos pela doença no período em ambos os países (300.896).

Estudos científicos e entidades médicas britânicas apontam que o aumento de mortes por câncer e doenças do coração durante e após o surgimento da covid-19 se deu por conta do impacto da pandemia no sistema de saúde, que fez com que pessoas doentes abandonassem os tratamentos ou precisassem postergar diagnósticos. Nenhum deles cita a vacinação como causa do aumento das mortes.

Além disso, dados reunidos por um estudo da universidade de Birmingham mostram que a vacina reduziu as mortes por covid-19 de pacientes com câncer.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de outubro, a postagem tinha 55 mil visualizações, mil compartilhamentos e 2 mil likes.

Como verificamos: Primeiramente foi consultada a pesquisa usada na postagem desinformativa para entender como ela foi feita e quem a produziu. Em seguida, o Comprova buscou junto aos órgãos oficiais do Reino Unido informações sobre mortes por câncer entre 2010 e 2022 (período usado no estudo).

Uma busca no Google pelos termos “death” + “cancer” + “covid” levou a diversos estudos que analisaram o impacto da covid nos pacientes com câncer e matérias de jornais britânicos sobre o assunto.

Ao pesquisar sobre a empresa que publicou o estudo foi possível encontrar checagens feitas por veículos internacionais de conteúdos antivacina publicados pela mesma empresa ou por um de seus sócios.

Dados oficiais não corroboram postagem

No site do Office For National Statistics há dados de mortalidade da Inglaterra e do País de Gales entre 2010 e 2022 (aqui e aqui). O Comprova selecionou as ocorrências de mortes por tumores cancerígenos malignos através do código usado pelo governo britânico, equivalente ao sistema CID-10 usado no Brasil.

A partir daí, buscou dados populacionais da Inglaterra e do País de Gales para formular uma taxa de mortes por câncer por 100 mil habitantes, métrica usada no estudo citado pela postagem falsa.

Como é possível ver nos gráficos, tanto os números absolutos quanto a taxa de mortalidade tinham tendência de queda entre 2010 e 2020. Contudo, nos dois anos seguintes houve alta, o que fez o número de mortes retornar ao patamar de 2018. Não há, porém, registro de aumento de “quase 50%” nas mortes por câncer, como aponta a postagem checada.

Os dados de mortes em excesso por tumores malignos na Inglaterra e no País de Gales nos três primeiros anos de pandemia também foram levantados pelo site do ONS.

Outros estudos não citam vacina como causa das mortes

O aumento no número de mortes por câncer durante e após a pandemia de Covid foi causado, segundo estudos científicos e entidades médicas, pelo impacto da pandemia no sistema de saúde britânico.

Um estudo publicado no The Lancet mostrou que, durante a pandemia, houve aumento de mortes pelos quatro tipos mais comuns de câncer no Reino Unido, mas a causa não foi a vacina.

“São esperados aumentos substanciais no número de mortes evitáveis ​​por câncer na Inglaterra, como resultado de atrasos no diagnóstico devido à pandemia de COVID-19 no Reino Unido”, concluíram os pesquisadores.

Outro estudo, este publicado no European Journal of Cancer, apontou que pacientes com câncer no Reino Unido eram mais propensos a morrer por covid do que pacientes saudáveis e até mesmo do que pacientes de câncer de outros países europeus.

Isso porque, durante a primeira onda da pandemia, o ministério da saúde britânico recomendou que os tratamentos oncológicos fossem paralisados com a intenção de não fragilizar ainda mais o organismo dos pacientes e fazê-los mais suscetíveis à covid. O estudo constatou que a pausa no tratamento não afetou o risco dessas pessoas de adoecerem por conta do vírus.

A vacinação, contudo, foi comprovadamente eficaz para evitar que pacientes com câncer morressem por covid-19, como mostra pesquisa da universidade de Birmingham.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com Karina Michelin, autora da postagem, e com a empresa que publicou o estudo, mas não houve retorno. Os conteúdos antivacina publicados por Karina já foram checados anteriormente. O Comprova já demonstrou que as vacinas não fizeram “explodir” doenças cardíacas em crianças, não causam danos ao sistema imunológico e não causam alterações genéticas.

O que podemos aprender com esta verificação: Números alarmantes acompanhados de gráficos são ferramentas bastante usadas por desinformadores. O uso desses recursos de forma desonesta dá a aparência de seriedade para a informação falsa ou enganosa. Como a reprodução dos cálculos ou até o acesso aos dados é, muitas vezes, difícil, dificulta a conferência pelo leitor. Nesses casos, é importante buscar informações junto às autoridades no assunto, pesquisas científicas publicadas em jornais reconhecidos e na imprensa profissional.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As vacinas contra a covid-19 ainda são alvo frequente de desinformação. Nos últimos meses, o Comprova já esclareceu que a da Pfizer não modifica o código genético nem causará epidemias; que o Canadá não admitiu que vacinadostenham desenvolvido Aids; que o CDC não falsificou dados sobre 99% das mortes por covid; e que o Parlamento Europeu não classificou o imunizante como arma biológica.

Política

Investigado por: 2023-10-30

Governo federal não comprou tapete de R$ 4 milhões; peça faz parte do acervo do Senado há mais de uma década

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao afirmar que o governo federal está adquirindo um tapete de R$ 4 milhões. A tapeçaria a que o post se refere, criada pelo paisagista e artista Burle Marx, pertence ao acervo do Senado Federal há mais de uma década e havia saído do Salão Negro da Congresso Nacional para ser restaurada após sofrer danos durante os ataques aos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro deste ano. O restauro custou R$ 236,2 mil.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que o governo federal está adquirindo um tapete de R$ 4 milhões enquanto reduz recursos destinados à área de saúde e faz cortes no programa Bolsa Família. O conteúdo também cita que compras online estariam recebendo taxas de quase 100% do valor da compra. O post acompanha um vídeo publicado pelo Senado que trata da restauração da obra.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter) e Telegram.

Conclusão do Comprova: É enganosa a publicação que alega que o governo federal está adquirindo um tapete de R$ 4 milhões. A obra do paisagista e artista Burle Marx foi feita em 1973 e integra o Museu do Senado. A peça retornou à Casa depois de passar por um processo de restauração dos danos causados durante os atos do dia 8 de janeiro.

A Agência Senado informou que, na ocasião, a obra foi arrancada da parede e suja com urina e pó de extintor de incêndio. Foram destinados R$ 236,2 mil para restaurar a peça.

Em relação aos cortes no Bolsa Família, trata-se de uma ação de revisão nos cadastros e exclusão de famílias que recebiam o benefício indevidamente. O Metrópoles informou que, de março a outubro, cerca de 2,9 milhões de beneficiários deixaram de ser contemplados.

A publicação investigada alega ainda que as compras feitas online têm sido taxadas em quase 100% do valor do produto. De acordo com uma portaria publicada pelo Ministério da Fazenda, em 26 de julho de 2023, o programa Remessa Conforme reduziu a zero a alíquota de importação, a partir de 1º de agosto, para compras até US$ 50. A medida se aplica a compras transportadas tanto pelos Correios (ECT) quanto por empresas de courrier e independe e vale para remetentes que sejam pessoa física ou jurídica.

Já para compras acima de US$ 50, o consumidor deverá pagar o imposto de importação, que corresponde a 60% do valor da encomenda.

Também faz parte da taxação a alíquota do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 17%. Diferente da taxa de importação, esse tributo é recolhido pelos estados. Essa forma de taxação já existia em gestões anteriores.

O Comprova questionou o Ministério da Saúde se houve diminuição nos recursos destinados à área. Contudo, a pasta não respondeu até o momento da publicação. Em julho, o governo anunciou o contingenciamento de R$ 452 milhões referentes a despesas discricionárias da pasta, em um esforço de não ultrapassar o teto de gastos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 26 de outubro, a publicação reuniu 17,3 mil visualizações, 404 curtidas, além de 145 compartilhamentos no X, onde posteriormente foi excluída. Já no Telegram, a postagem somou 11,3 mil visualizações até o dia 30 de outubro.

Como verificamos: O Comprova buscou por “tapeçaria + Senado” no Google.

Como resultado, encontrou uma matéria publicada no dia 23 de outubro pela Agência Senado sobre a restauração.

Em seguida, o Comprova questionou o governo federal sobre os cortes no Bolsa Família, o valor do recurso destinado à área da saúde e o imposto cobrado sobre as compras online.

Tapete pertence ao Senado e passou por restauração após 8 de janeiro

Os invasores do Congresso Nacional fizeram um rasgo de 21 centímetros, urinaram, atiraram jatos de extintor de incêndio e molharam a tapeçaria durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. A obra ficava exposta no Salão Negro do Legislativo federal.

Avaliada em R$ 4 milhões, a obra mede cerca de 15 metros quadrados e quase cinco metros de altura. A medida oficial é de 3,28m x 4,83m. A peça possui formas irregulares e assimétricas, em tons de verde, vermelho, azul, preto e branco, que criam imagens conforme o olhar do espectador.

O processo de restauração do tapete durou três meses, tornando-se a 19ª obra recuperada, de um total de 21 peças danificadas durante a invasão.

Após o ato de vandalismo, algumas das preocupações eram com o desenvolvimento de fungos e microorganismos na peça.

Em entrevista à Agência Senado, Isamil Carvalho, chefe do Laboratório de Conservação e Restauração do Museu do Senado, disse que a situação da tapeçaria inviabilizava a sustentação dela na parede, por causa do seu peso e da grande dimensão do seu tamanho.

Com o fim do processo de restauração, a tapeçaria foi devolvida ao Salão Negro do Congresso Nacional no dia 23 de outubro.

Toda a restauração foi orçada em R$ 170,3 mil. Devido ao alto valor da obra de arte, foram contratados também uma transportadora especializada e um seguro, nos valores de R$ 37 mil e R$ 28,9 mil, respectivamente, totalizando um custo de R$ 236,2 mil.

| Tapeçaria restaurada – Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Cortes no Bolsa Família

Em relação à alegação de que houve cortes no Bolsa Família, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) esclareceu que, desde janeiro, vem fazendo um diagnóstico da situação das famílias inscritas no Cadastro Único, base de dados de referência para a inclusão em programas de transferência de renda.

A medida, segundo a pasta, foi implementada por recomendação de um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) que apontou irregularidades na gestão do Auxílio Brasil, equivalente ao Bolsa Família do governo de Jair Bolsonaro (PL), e na atualização de informações do Cadastro Único.

De acordo com a nota enviada ao Comprova, nos meses que antecederam as eleições, houve um grande aumento no número de famílias unipessoais registradas no CadÚnico e de beneficiárias do Auxílio Brasil.

Em março deste ano, após o ministério firmar acordo com a Defensoria Pública da União (DPU) e a Advocacia-Geral da União (AGU), o governo implementou a Ação de Qualificação Cadastral. Ela engloba os processos de Averiguação Cadastral Unipessoal, Averiguação Cadastral de Renda e Revisão Cadastral.

Com a Averiguação Cadastral de Renda, é possível identificar divergências entre os dados de renda declarados na inscrição do Cadastro Único e os rendimentos encontrados em outras bases de dados. Assim, caso seja verificado que a renda está acima do limite definido pelas regras do Bolsa Família — de R$ 218 por pessoa atualmente — o titular é impedido de receber o benefício.

Outra ação feita para identificar irregularidades é a Averiguação Cadastral Unipessoal, que é o processo de convocar beneficiários para confirmar a composição familiar deles ou se, de fato, moram sozinhos.

Segundo o Metrópoles, desde março o governo federal cancelou o cadastro de cerca de 2,9 milhões de beneficiários do Bolsa Família que recebiam o auxílio indevidamente. A ação de revisão dos registros vai até dezembro.

Atualmente, 21,45 milhões famílias são contempladas pelo Bolsa Família, que tem benefício médio de R$ 688,97. Recentemente, o governo incluiu um adicional de R$ 50 por criança para famílias com bebês de até 6 meses. De acordo com a pasta, em outubro foram investidos R$ 14,67 bilhões no programa.

Apesar dos desligamentos, o governo também tem feito a inclusão de novas famílias por meio da busca ativa. O MDS informou que a ação permitiu a integração de 2,39 milhões de novos lares ao programa.

Imposto sobre compras online e redução de recursos na Saúde

A publicação investigada também afirma que as compras online estão sujeitas a impostos que representam quase 100% do valor dos produtos. Questionado pelo Comprova, o Ministério da Fazenda encaminhou uma notícia sobre a regulamentação do programa Remessa Conforme, que zerou a alíquota de importação em compras de até US$ 50 para companhias participantes. Empresas como a Shein, Shopee e Mercado Livre aderiram à iniciativa.

Para as compras acima de US$ 50, o consumidor deve pagar o imposto de importação, que corresponde a 60% do valor do pedido, assim como já vinha acontecendo antes do programa Há ainda a alíquota do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 17%. Diferente da taxa de importação, esse tributo é recolhido pelos estados.

Já sobre a suposta redução de recursos para a área de Saúde, o governo anunciou um bloqueio de R$ 1,5 bilhão no orçamento, sendo R$ 452 milhões referentes às despesas discricionárias do Ministério da Saúde em julho. O contingenciamento foi feito para adequar o orçamento ao teto de gastos. A prática também foi adotada por governos anteriores ao de Lula.

O bloqueio atinge apenas as despesas discricionárias, ou seja, aqueles gastos que não são obrigatórios, a exemplo de novos investimentos e manutenção. O Comprova questionou o Ministério da Saúde a fim de verificar se houve novos cortes, mas não obteve retorno.

O que diz o responsável pela publicação:O Comprova tentou entrar em contato com o autor da publicação. Contudo, o X não permite o envio de mensagem entre pessoas que não se seguem. Também não foi possível entrar em contato por meio do Telegram.

O que podemos aprender com esta verificação: O autor do post usa informações verdadeiras, publicadas por um órgão oficial, a exemplo do vídeo veiculado nas redes sociais do Senado para dar credibilidade ao conteúdo. No entanto, atribui a responsabilidade de uma suposta compra ao governo federal, o que é desmentido pelo próprio conteúdo repostado. Misturar fatos verídicos e informações inventadas é uma prática comum de perfis que costumam disseminar desinformação. Nessas publicações, também é comum que sejam citados altos valores, associados a supostas políticas do governo que prejudicariam a população. Ao se deparar com conteúdos deste tipo, consulte os órgãos oficiais e veículos de imprensa de sua confiança.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O governo federal e suas políticas são, constantemente, alvos de desinformação. O Comprova já verificou que a apreensão de R$ 3,2 milhões pela PF em sacos de lixo não tem relação com governo Lula; que a lei que instituiu pau de arara como manifestação cultural não permite retorno do uso dos veículos; e que o vice-presidente, Geraldo Alckmin, não sugeriu acabar com Bolsa Família.

Com relação aos impostos pagos em compras online, o Comprova já detalhou como são cobradas as taxas por produto.

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Investigado por: 2023-10-26

Lei que instituiu pau de arara como manifestação cultural não permite retorno do uso dos veículos

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Uma lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agosto de 2023 reconheceu a tradição do uso do pau de arara em romarias religiosas como manifestação cultural e imaterial do Brasil. Esse tipo de veículo consistia na adaptação de caminhões para o transporte de pessoas, com a inclusão de bancos e toldos em carrocerias. Embora tradicional em cidades do interior do Nordeste, a utilização é proibida desde 2014 por resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A lei sancionada não faz qualquer mudança quanto a isso.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra trechos de uma solenidade do governo federal com a presença do presidente Lula e outras autoridades. O narrador do conteúdo diz que o povo nordestino “pode comemorar”, pois o “governo petista oficializou o pau de arara patrimônio cultural brasileiro”. O autor ainda cita supostos financiamentos para meios de transporte como ônibus e metrôs destinados a países como Cuba e Argentina, dando a entender que o governo estaria, ao mesmo tempo que financia obras no exterior, incentivando o transporte precário no Brasil. Na sequência, aparecem trechos de declarações de Lula, do deputado José Guimarães (PT) e do padre Cícero José da Silva, da Diocese do Crato, no Ceará, durante a cerimônia.

Onde foi publicado: Kwai e Telegram.

Contextualizando: Em 1º de agosto de 2023, o presidente Lula (PT) sancionou uma lei que torna a tradição do uso do pau de arara em romarias religiosas como manifestação cultural e imaterial do Brasil. No dia, foi realizada uma cerimônia em Brasília junto a lideranças políticas e religiosas do Ceará. Dentre os que aparecem nos registros fotográficos, estão os deputados federais José Guimarães (PT) e Yury do Paredão (sem partido), o atual prefeito de Juazeiro do Norte, Gledson Bezerra (Podemos) e o ex-gestor do município, Arnon Bezerra (PDT). O padre Cícero José da Silva, reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, da Diocese do Crato, também compareceu.

| Foto: Ricardo Stuckert/PR
 

No encontro, Guimarães, que é o autor da proposta, ressaltou que o transporte hoje mudou, mas ficaram “o legado e a cultura”. “Um projeto reconhecendo o transporte pau de arara como patrimônio cultural e imaterial do Brasil, essa é a natureza do projeto”, disse.

Em nota enviada ao Comprova, o deputado reiterou o posicionamento. Ele ressaltou que a lei não significa o retorno do veículo ou “qualquer tipo de regularização junto ao Código Brasileiro de Trânsito”, como enganam posts virais nas redes sociais. “Trata-se claramente de uma homenagem aos romeiros e romeiras que, por décadas, utilizaram esse transporte para o turismo religioso, criando assim uma tradição histórica que ultrapassa gerações”, afirmou. “Tentar distorcer esse fato configura, no mínimo, uma atitude de má fé e merece ser repudiada inclusive com medidas judiciais”, disse.

A Lei Nº 14.641 declara como “manifestação da cultura nacional a tradição do uso, em romarias religiosas, do transporte conhecido como “pau de arara”, como está disponibilizado no Diário Oficial de 2 de agosto deste ano. Não há qualquer menção a uma mudança no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) ou invalidação de resoluções do Conselho Nacional de Trânsito.

Desde 2014, é proibido o transporte de pessoas em pau de arara, que é uma adaptação de carrocerias de caminhões usadas para comportar passageiros durante o deslocamento. Na resolução Nº 508 de novembro de 2014, o conselho instituiu os requisitos de segurança para a circulação, a título precário, de veículo de carga ou misto transportando passageiros no compartimento de cargas.

| Foto: Rozelia Costa/Basílica Nossa Senhora das Dores (via Agência Senado)
 

A resolução revogou uma determinação anterior, emitida em 1998, que permitia o uso dos veículos em algumas situações. Por meio de nota, o Ministério dos Transportes, pasta à qual o conselho é vinculado, destacou a obrigatoriedade dos bancos revestidos com espuma, presença de encosto de cabeça e cintos de segurança para todos os ocupantes, devidamente fixados na estrutura da carroceria, além de boa qualidade da carroceria, presença de barras de apoio, proteção lateral, entre outros.

“Deste modo, esta resolução é explícita quanto aos requisitos necessários para a possibilidade de utilização destes veículos, como é o caso do projeto sancionado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva”, apontou a pasta.

Ficou proibida, com a resolução, a utilização de veículos de carga tipo basculante e boiadeiro.

O descumprimento da medida, ou seja, o transporte de pessoas nesse tipo de veículo, acarreta ao proprietário ou condutor do veículo penalidades e medidas administrativas. Reportagem do UOL, publicada em 2022 mostrou que, apesar de proibido, o transporte ainda é usado em alguns locais.

Pau de arara faz parte da cultura de romeiros

Os veículos do tipo pau de arara eram tradicionalmente usados em diversas regiões do Nordeste e estão ligados especialmente ao êxodo rural e às romarias. Atualmente, mais de quatro milhões de pessoas utilizam todos os anos o transporte em romarias, como a de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, e de São Francisco das Chagas, em Canindé, ambas no Ceará, e a de Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Diante da proibição, grupos de romeiros pedem ao Contran medidas mais simplificadas que garantam a segurança, sem descaracterizar este meio de transporte.

Padre Cícero José da Silva, reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, da Diocese do Crato, divulgou carta, quando houve a sanção da lei, e ressaltou o caráter cultural do transporte. “Trazemos na memória a coragem dos primeiros peregrinos que iam a Juazeiro do Norte nas carrocerias adaptadas dos caminhões e, através da experiência de fé, contribuíram para a construção da identidade religiosa e cultural da cidade, além do desenvolvimento econômico.”

A Diocese do Crato, inclusive, mantém, em seu site, registros de festas antigas que tinham o uso do transporte. “Como de costume os romeiros enfeitam os carros, ônibus, caminhões pau de arara. Colocam a imagem do padre Cícero, da Mãe das Dores, usam bandeirolas nas mais diversas cores para demonstrarem a alegria por estarem no Juazeiro do ‘Padim Ciço’. Os juazeirenses, por sua vez, ficam nas calçadas das ruas aguardando os bombons, pirulitos e pipocas jogados pelos romeiros que estão nos transportes”, escreve uma publicação de setembro de 2016.

Empréstimos e falta de água já foram esclarecidos pelo Comprova

O autor da publicação também faz alegações relacionadas a supostos financiamentos para meios de transporte como ônibus e metrôs destinados a países como Cuba e Argentina. Em janeiro deste, o presidente Lula afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltará a financiar projetos de desenvolvimento e engenharia em países vizinhos. A fala aconteceu durante pronunciamento em Buenos Aires, na Argentina, ao lado do então presidente argentino, Alberto Fernández.

No mesmo dia, Lula disse que ele e empresários brasileiros estariam interessados na conclusão da rede de tubulação para transporte de gás natural argentino. Ele afirmou que iria criar condições para “ajudar” nas obras, com o BNDES atuando como financiador do empreendimento. No entanto, não houve nenhuma formalização para a retomada de financiamentos neste sentido.

A ligação entre empréstimos e financiamentos a países vizinhos com um suposto descaso com o Brasil é uma crítica comum aos governos do PT. O tema é comum em peças de desinformação. O Comprova já investigou vídeo que citava 20 operações que supostamente teriam sido financiadas pelo BNDES entre os anos de 2009 e 2014 (durante os governos petistas de Lula e Dilma Rousseff). A peça apresenta informações falsas referentes aos valores financiados, além de atribuir ao banco sete construções que não tiveram acesso a recursos de linhas de crédito do banco.

Em outro caso, foi mostrado que publicação misturava dados verdadeiros com números incorretos sobre financiamentos do BNDES nos governos do PT. Também foi mostrado este ano que é enganoso que o Brasil fará empréstimo à Argentina enquanto Lula bloqueia recursos da saúde e educação.

O fornecimento de água no Nordeste do país também tem sido um tema recorrente de desinformação em posts compartilhados nas redes sociais. No vídeo alvo desta checagem, o autor cita, sem dar detalhes, que “cortaram a água” do povo nordestino.

O Comprova já demonstrou, por exemplo, como é o funcionamento do processo de captação e bombeamento de água para estados do Brasil e que o governo federal não bloqueou água na região. Também mostrou que a polarização intensifica a desinformação sobre a transposição do Rio São Francisco, a maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil, que atende estados nordestinos.

Os autores dos conteúdos também propagam informações fora de seu contexto original, para fazer alegações enganosas e falsas a respeito deste tema . Neste sentido, o Comprova mostrou, recentemente, que protesto na Bahia não foi motivado por falta de água, nem tem relação com Governo Lula.

Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: A postagem analisada aqui, como foi veiculada sem a devida contextualização, dá a entender que o uso do veículo poderá ser retomado no Brasil. Além disso, ao mencionar investimento em outros países, o vídeo possibilita a interpretação que haveria uma ação direta do governo federal para desfavorecer a aplicação de recursos na região em comparação com países como Argentina e Cuba.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com o autor da publicação, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de outubro, a publicação no Kwai acumulava mais de 106 mil visualizações, 10,5 mil curtidas e 3,4 mil comentários. O conteúdo também vem sendo disseminado no Telegram.

Como verificamos: A verificação buscou no Google pelos termos “Lula + pau de arara”, o que resultou em links de reportagens publicadas na imprensa e que tratam da solenidade que marcou a assinatura da lei que torna a tradição do uso do pau de arara em romarias religiosas como manifestação cultural e imaterial do Brasil, entre as quais, a do Correio Braziliense, Metrópoles e da própria agência de notícias do governo federal.

Pelos mesmos termos, mas em busca no YouTube, localizamos a transmissão da solenidade.

O Comprova também buscou a assessoria de imprensa do deputado federal José Guimarães, autor da lei sancionada, e com o Ministério dos Transportes.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo contextualizado pelo Comprova também já foi checado pelo Boatos.org, que mostrou ser falsa a volta do uso do pau de arara como meio de transporte. O governo federal e suas políticas são, constantemente, alvos de desinformação. O Comprova já verificou que o governo Lula assinou acordo de cooperação técnica com Autoridade Palestina, não com o Hamas; que Alckmin não sugeriu acabar com Bolsa Família; e que o presidente não instituiu banheiro unissex nas escolas.

 

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Investigado por: 2023-10-26

Entenda as acusações de antissemitismo contra Roger Waters e o uso de uniforme com referência ao nazismo em shows

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O músico britânico Roger Waters, que fez visita recente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já foi acusado de antissemitismo, que se caracteriza por atos de preconceito, hostilidade ou discriminação contra judeus. O artista diz se opor, na verdade, às violações que entende serem cometidas por Israel contra palestinos. Nos shows, o músico costuma vestir um uniforme alusivo à SS, a tropa de Hitler, quando interpreta o que diz ser um demagogo fascista desequilibrado, personagem presente na iconografia do Pink Floyd, do qual era integrante, desde os anos 1980. Além disso, não há registro de que ele tenha sido proibido de tocar nos Estados Unidos, como alega uma publicação.

Conteúdo investigado: Publicação em canal do Telegram compartilha notícia do G1 sobre uma visita do músico britânico Roger Waters ao presidente Lula no Palácio do Planalto. A postagem xinga o petista e diz que o ex-baixista do Pink Floyd é o mais famoso antissemita do mundo. O conteúdo alega ainda que Waters faz show com uniforme nazista e que foi proibido de se apresentar nos Estados Unidos por conta disso.

Onde foi publicado: Telegram.

Contextualizando: O músico Roger Waters visitou o presidente Lula (PT) em Brasília, em 23 de outubro, um dia antes de fazer show na cidade. O encontro foi divulgado pelo próprio presidente em publicações nas redes sociais. “Há cinco anos, @rogerwaters tentou me visitar em Curitiba e foi impedido. Hoje, quando ele retorna ao Brasil, nos encontramos no gabinete da presidência no Palácio do Planalto”, escreveu o petista em post no X (antigo Twitter).

Waters é um histórico apoiador do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções, em tradução do inglês), contra a expansão do Estado de Israel sobre territórios também reivindicados por palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Por conta disso, ele é recorrentemente acusado de antissemitismo por entidades judaicas. Para muitos judeus, o apoio ao BDS é uma forma de antissemitismo. Além disso, o músico foi acusado de usar termos ofensivos a judeus e criticado por usar a Estrela de Davi em um contexto negativo.

Waters afirma, no entanto, que não é nem nunca foi antissemita. Ele contesta que a definição de antissemitismo colocada sobre ele parte de pressupostos distorcidos de que toda crítica a Israel seja inerentemente antijudaica e de que o sionismo seja um elemento essencial da identidade judaica.

A alegação de que Waters veste uniforme nazista faz alusão à performance comum do músico em shows ao cantar “In the Flesh”. Nessas ocasiões, ele veste um sobretudo militar com uma braçadeira vermelha, conjunto parecido ao de militares da polícia nazista SS, e empunha uma metralhadora falsa contra os fãs.

O músico afirma que se trata, no entanto, da interpretação crítica de um personagem: o roqueiro fictício Pink, que acredita ser um ditador fascista. Ele aparece em shows e na iconografia do Pink Floyd desde os anos 1980, quando foi lançado o álbum conceitual “The Wall”, que conta com a canção “In the Flesh”.

Já sobre a alegação de que Roger Waters foi proibido de se apresentar nos Estados Unidos, não há registro que sustente isso. Um show dele em Frankfurt, na Alemanha, previsto para 28 de maio deste ano, chegou a ser cancelado provisoriamente por autoridades locais que acusavam o músico de antissemitismo. No entanto, a apresentação foi liberada posteriormente, por decisão da Justiça.

Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: Diante do contexto da guerra entre Israel e o grupo extremista palestino Hamas, a publicação pode levar a crer que o encontro entre Lula e Roger Waters sinaliza um endosso do presidente à suposta posição antissemita do cantor.

O que diz o responsável pela publicação: O canal responsável pela publicação não disponibiliza qualquer informação que possibilite uma tentativa de contato, como endereço de e-mail ou telefone.

Alcance da publicação: A publicação compartilhada pelo canal do Telegram alcançou 4,2 mil visualizações até o dia 26 de outubro.

Como verificamos: O Comprova realizou buscas no Google pelos termos “Roger Waters faz apologia ao nazismo” e por “shows cancelados de Roger Waters”, a fim de, primeiramente, compreender o contexto da associação do artista ao antissemitismo.

Nas buscas realizadas, encontramos reportagens (G1, Veja, Agência Brasil, GZH) falando sobre o mesmo assunto: que Roger Waters utilizou um traje semelhante ao uniforme nazista em um show realizado em Berlim; e, em resposta a tal acusação, as reportagens mostram que o artista justificou o uso da roupa como protesto, e não apologia.

A equipe do Comprova também encontrou materiais publicados na página do próprio artista, nos quais ele negou seu apoio ou qualquer relação positiva com nazismo, e no canal dele no YouTube. Além disso, consultou produções acadêmicas sobre a obra de Roger Waters e do Pink Floyd (1, 2, 3).

Como Roger Waters passou a ser acusado de antissemitismo

As acusações de que Roger Waters seria antissemita são antigas. Em 2010, ele recebia as primeiras críticas após shows da turnê mundial “The Wall Live”, em que ele apresentou um cenário retratando bombas no formato da Estrela de Davi – um símbolo judaico – durante a música Goodbye Blue Sky.

 

| Print da transmissão de “Roger Waters Goodbye Blue Sky Live 2010”. Disponível aqui 

Em 2012, ele afirmou, em entrevista coletiva realizada no Brasil, que apoiava o movimento BDS e que não consumia produtos fabricados em Israel. No ano seguinte, em declaração dada nos Estados Unidos, ele afirmou que “o lobby judeu é extraordinariamente poderoso aqui e particularmente na indústria em que trabalho, a indústria da música”, fala que, na avaliação de quem o critica, reforça o imaginário antissemita do povo judeu como controlador do mundo, poderoso e conspiracionista.

Outra polêmica envolvendo o artista ocorreu em 2015, quando ele insistiu, por meio de uma carta aberta, para que Gilberto Gil e Caetano Veloso, à época em turnê conjunta, não realizassem show em Israel, pedido que não foi atendido. Além disso, ele já pediu para outros artistas que não se apresentassem no país, entre eles Neil Young, Robbie Williams e Lauryn Hill.

Em entrevista de 2017, Roger Waters disse não ter problemas com o povo judeu, mas, sim, com a atuação do Estado de Israel contra palestinos. Ele afirmou, na ocasião, ser “fundamentalmente contra a ideia de pessoas serem subjugadas e privadas de seus direitos. Expressei esse meu posicionamento, e aí sugeriram que eu fosse antissemita, o que não é verdade. Irei para o meu túmulo defendendo os direitos das pessoas comuns”, disse.

Em fevereiro de 2023, Polly Samsom, mulher de David Gilmour, guitarrista do Pink Floyd, tuitou que Waters é “antissemita até o seu núcleo podre”. Ela ainda afirmou na ocasião que o músico é mentiroso, ladrão, hipócrita, sonegador de impostos, dublador, misógino, doente de inveja, megalomaníaco e apologista de Vladimir Putin, presidente da Rússia.

A publicação ocorreu dias depois de Roger Waters ter dito que estava aberto a ouvir o que Putin teria a dizer, apesar de ter chamado ele antes de gangster, e que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também seria culpado pela guerra na Ucrânia. Gilmour republicou a postagem da esposa na ocasião afirmando que cada palavra dela era comprovadamente “verdadeira”.

Em posicionamento mais recente, Waters afirmou ser colocada sobre ele uma noção distorcida de antissemitismo, por não ser contrário ao povo judeu, mas se opor a violações de direitos humanos que entende terem sido cometidas por Israel contra palestinos.

“Sei que o povo judeu é um grupo diversificado, interessante e bastante complicado, tal como o resto da humanidade. Muitos são aliados na luta pela igualdade e justiça, em Israel, na Palestina e em todo o mundo”, escreveu ele em comunicado divulgado em 29 de setembro de 2023.

A manifestação foi publicada em resposta ao documentário “The Dark Side of Roger Waters”, da organização não governamental britânica Campaign Against Antisemitism (Campanha contra o Antissemitismo, em tradução do inglês).

O filme traz acusações de um produtor musical e de um saxofonista que trabalharam com Waters sobre declarações antissemitas dele na rotina pessoal. Por exemplo, ele é acusado de ter chamado seu agente de “judeu de merda”.

A produção também exibe trechos de e-mail atribuído ao ex-músico do Pink Floyd, de 2010, em que ele propõe lançar um porco inflável sobre a plateia nos shows com a Estrela de Davi e um termo antissemita em inglês extremamente ofensivo estampados, entre outros símbolos e expressões.

O assunto ainda retornou aos holofotes devido ao conflito protagonizado por Israel e Hamas, grupo extremista palestino que controla a Faixa de Gaza. O Hamas, sigla do árabe “Ḥarakah al-Muqawamah al-‘Islamiyyah”, significa Movimento de Resistência Islâmica.

Conforme já explicado anteriormente pelo Comprova, o grupo fundamentalista islâmico é considerado terrorista por países como Estados Unidos, Japão e as nações vinculadas à União Europeia. O Hamas foi criado durante a Primeira Intifada palestina, um movimento contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Em sua carta fundadora, de 1988, o grupo rechaça a existência do Estado de Israel.

Não há registro de apoio expresso de Roger Waters ao Hamas, mas, sim, ao povo palestino, que não é representado em sua totalidade pelo grupo extremista. Em 2020, contudo, ele concedeu entrevista à agência de notícias Shehab, afiliada ao Hamas, na qual afirmou que “o sionismo é uma mancha feia e que precisa ser gentilmente removida por nós”.

Em entrevista recente à TV Brasil, o músico britânico chamou de genocídio a contraofensiva de Israel sobre a Faixa de Gaza, termo que já havia utilizado em situações anteriores para tratar do conflito. Afirmou ainda que os ataques eram promovidos pelo governo de Israel, e não pelo povo israelense.

Suposto uniforme nazista retrata personagem dos anos 80

A performance de Waters com uniforme que remonta à SS, citada pela postagem verificada pelo Comprova, ocorre durante os shows do artista no momento em que ele canta a canção “In The Flesh”, que abre o álbum conceitual “The Wall”, do Pink Floyd, de 1979.

Todo o álbum conta a trajetória de uma estrela do rock chamada Pink e explora temas do existencialismo pós-guerra, como totalitarismo, liberdade, loucura e subversão. “In The Flesh”, especificamente, relata a ocasião em que o roqueiro fictício se torna um ditador fascista.

Esse personagem também aparece no filme “The Wall”, de 1982, com o mesmo uniforme preto alusivo à SS e com a braçadeira vermelha que exibe, em vez de uma suástica nazista, dois martelos cruzados. Desde o lançamento do longa-metragem, a figura de Pink é interpretada por Roger Waters em shows.

| Personagem Pink no filme “The Wall”, de 1982 (Foto: Reprodução)

Ao repetir a performance em um show em Berlim, na Alemanha, em 17 de maio deste ano, a polícia local abriu investigação por suspeita de incitação ao ódio público. Waters disse à época que as acusações de apologia ao nazismo usavam de má-fé e que os elementos de sua performance eram claramente uma declaração em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas.

“A representação de um demagogo fascista desequilibrado tem sido uma característica dos meus shows desde ‘The Wall’, do Pink Floyd, em 1980”, comunicou, em nota, na ocasião.

Waters não foi proibido de tocar nos EUA

A publicação investigada alega que Roger Waters foi proibido de fazer shows nos Estados Unidos após usar o traje semelhante ao uniforme de militares da polícia nazista. A afirmação, no entanto, não é verdadeira. O Departamento de Estado dos Estados Unidos chegou a fazer críticas ao cantor após a polêmica performance em Berlim.

O órgão classificou a apresentação como “profundamente ofensiva ao povo judeu”. Além disso, a embaixadora Deborah Lipstadt, enviada especial do país para monitorar e combater o antissemitismo, publicou um tuíte condenando a performance de Waters, que chamou de “desprezível distorção do Holocausto”.

Apesar das duras críticas que recebeu, não há qualquer registro sobre a suposta proibição aos shows do ex-baixista do Pink Floyd no país. A turnê “This Is Not a Drill” teria início em 2020, mas foi adiada por conta da pandemia. Na época, a Liga de Baseball dos Estados Unidos anunciou o cancelamento das publicidades dos shows em suas plataformas após sofrer críticas de organizações judaicas.

Mesmo com a polêmica, a turnê passou pelos Estados Unidos entre julho e outubro de 2022, ou seja, antes da apresentação que foi alvo de críticas, em Berlim.

Durante a passagem pela Europa, Waters chegou a ter um show cancelado em Frankfurt, na Alemanha. A apresentação estava prevista para acontecer em 28 de maio, no Festhalle, uma casa de eventos que, durante a Segunda Guerra Mundial, funcionou como centro de detenção do regime nazista.

O conselho da cidade, ao justificar o cancelamento, classificou o cantor como “um dos antissemitas mais conhecidos do mundo”. Outras cidades alemãs também consideraram suspender as apresentações.

No entanto, após o cantor recorrer, a Justiça decidiu manter o show em Frankfurt. O tribunal afirmou que, por questões contratuais, a cidade não poderia impedir o concerto de acontecer. Além disso, considerou que, apesar do uso de símbolos durante o show, não havia indícios de uso de propaganda nazista.

Na apresentação de Berlim naquele mesmo mês de maio, uma mensagem exibida em um telão minutos antes de o músico subir ao palco citou a decisão do tribunal de Frankfurt. “Apenas para ser claro, eu condeno o antissemitismo sem qualquer reserva”, dizia o texto, em tradução do inglês.

Também no show de Berlim, foi exibido no mesmo telão o nome de Anne Frank, adolescente alemã judia vítima do Holocausto, durante uma homenagem a ativistas políticos que foram vítimas de autoridades e governos que Roger Waters considera autoritários. A conta do governo de Israel no X publicou na ocasião que o músico teria profanado a memória da garota e dos 6 milhões de judeus mortes pelo regime nazista.

A homenagem de Waters em Berlim também fez menção, entre outros nomes, a Sophie Scholl, ativista anti-nazista morta por se opor ao regime de Hitler; Shireen Abu Akleh, jornalista palestino-americana morta pelo exército de Israel; Mahsa Amini, jovem morta pela polícia da moralidade do Irã; e George Floyd, afro-americano assassinado por estrangulamento por um policial branco nos Estados Unidos.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Com a escalada do conflito entre o grupo extremista Hamas e Israel, começaram a surgir diversas peças de desinformação envolvendo a posição do Brasil na guerra. O Comprova já verificou que o ministro Silvio Almeida registrou reuniões com embaixador do Irã, país que apoia o grupo extremista, e diplomacia de mais 20 países; que vídeo mostra turistas estrangeiros no Ceará, não integrantes da facção no Brasil; que Biden não disse que Lula deveria se preocupar com comida para brasileiros em vez da guerra; e que o governo Lula assinou acordo de cooperação técnica com Autoridade Palestina, não com o grupo terrorista.

 

 

Política

Investigado por: 2023-10-24

Apreensão de R$ 3,2 milhões pela PF em sacos de lixo não tem relação com governo Lula

  • Enganoso
Enganoso
Ação realizada pela Polícia Federal (PF), durante investigação de suposto esquema de propina em agosto de 2023, não mirou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A investida da PF teve como alvos uma empresa de engenharia e a Universidade Estadual de Roraima. Publicação engana ao criar uma relação entre a gestão atual e o caso usando imagens reais divulgadas pela corporação no momento da apreensão de R$ 3,2 milhões armazenados em sacos de lixo.

Conteúdo investigado: Publicação nas redes sociais relaciona ação da Polícia Federal (PF), que apreendeu R$ 3,2 milhões dentro de sacos de lixo, e o governo Lula (PT). O vídeo mostra imagens de agentes da corporação com bolos de dinheiro enquanto fazem buscas em um imóvel. “O governo do amor venceu. Não tem dinheiro para fazer nada pelo pobre, mas tem dinheiro para pagar propina”, alega o homem. O post também traz o trecho de uma reportagem sobre a operação exibida no Jornal Hoje, da TV Globo.

Onde foi publicado: Kwai e Instagram.

Conclusão do Comprova: A ação da PF que apreendeu R$ 3,2 milhões armazenados em sacos de lixo, que seriam destinados ao pagamento de propina, não tem relação com o governo Lula (PT), como sugere vídeo que viralizou no Kwai.

A apreensão ocorreu no âmbito de uma investigação que apurava um suposto esquema de corrupção envolvendo a Universidade Estadual de Roraima e a contratação de uma empresa de engenharia. A própria reportagem usada no vídeo traz esse contexto. As notícias que repercutiram a ação, e uma nota publicada pela Polícia Federal, não fazem qualquer menção ao governo federal.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 24 de outubro, o vídeo publicado no Kwai teve 21,2 mil visualizações, 3,1 mil curtidas e 257 comentários. No Instagram, foram 12,2 mil visualizações e mais de 400 compartilhamentos.

Como verificamos: Em uma busca pelas palavras-chave “apreensão”, “propina” e “R$ 3,2 milhões”, chegamos a notícias publicadas por diversos veículos (G1, Folha, UOL) sobre a operação da PF envolvendo a Universidade Estadual de Roraima. Ao identificar a data das publicações, pesquisamos pela edição exibida no mesmo dia pelo Jornal Hoje, da TV Globo, para chegar ao trecho da reportagem usada no vídeo (começa a partir de 49:19).

Solicitamos um posicionamento da Secretaria de Comunicação Social do governo federal, que encaminhou a demanda à Polícia Federal. A corporação enviou uma notícia sobre a operação publicada em seu site. Também buscamos o autor do vídeo em outras redes sociais e enviamos uma mensagem via Kwai.

Operação não tem relação com governo Lula

Em 17 de agosto de 2023, a Polícia Federal apreendeu R$ 3,2 milhões em dinheiro vivo, armazenados em sacos de lixo nos fundos de um imóvel em Boa Vista (RR). A ação investigava um suposto esquema de pagamento de propina envolvendo a Universidade Estadual de Roraima e uma empresa do ramo de engenharia. O montante foi encontrado em pilhas de notas de R$ 100 e de R$ 50, que estavam escondidas na casa do irmão de um empresário que estaria envolvido no caso.

As imagens usadas no vídeo que viralizou no Kwai foram publicadas em diversos veículos de imprensa (TV Band, UOL). As reportagens não fazem qualquer menção à participação de Lula ou membros do governo. O trecho da matéria do Jornal Hoje utilizado na montagem cita, inclusive, que os alvos da investigação seriam a instituição de ensino e a empresa de engenharia.

A UERR, por ser uma instituição de ensino estadual, se mantém com recursos que recebe do governo local, ao contrário das universidades federais, que são financiadas diretamente pelo governo federal.

Na época, a universidade se manifestou em nota e informou que “a instituição não recebeu nenhuma comunicação oficial da Polícia Federal ou da Justiça acerca das informações divulgadas, nem foi alvo de qualquer ação em todas as suas unidades administrativas e educacionais, mas adianta estar à disposição para colaborar no que for necessário para que todos os fatos sejam esclarecidos, no intuito de resguardar o interesse público.”

De acordo com a investigação, os R$ 3,2 milhões seriam destinados ao pagamento de propina relacionada a uma licitação, no valor de R$ 16 milhões, que teria como vencedora a empresa suspeita de integrar o esquema.

Em 31 de agosto, na segunda fase da operação que investiga o esquema, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na sede da universidade e em outro endereço de Boa Vista.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o responsável pela publicação, mas não obteve resposta.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática comum entre os agentes de desinformação é o uso de informações verdadeiras junto a alegações que não têm relação com o contexto original. Neste caso, o narrador usa vídeos de uma operação que, de fato, ocorreu, mas associa a ação a uma suposta participação do governo Lula, o que não se sustenta. O corte de vídeo da reportagem do jornal não confirma o que diz o homem que aparece no post. A reportagem menciona o envolvimento de uma universidade estadual e não faz qualquer referência ao governo federal. Ao desconfiar da veracidade de uma informação publicada nas redes sociais, faça uma busca e consulte veículos de comunicação de sua confiança.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O governo federal e suas políticas são, constantemente, alvos de desinformação. O Comprova já verificou que Lula não estava bêbado nem agarrou apoiadora como alegam publicações que usam vídeo manipulado; que o governo Lula assinou acordo de cooperação técnica com Autoridade Palestina, não com o Hamas; que Alckmin não sugeriu acabar com Bolsa Família; e que o presidente não instituiu banheiro unissex nas escolas.

Política

Investigado por: 2023-10-24

Ministro registrou reuniões com embaixador do Irã e diplomacia de mais 20 países

  • Enganoso
Enganoso
Publicação do deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) engana ao afirmar que o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, teve apenas cinco agendas bilaterais neste ano, entre as quais duas foram com o Irã. O ministro teve, de fato, dois encontros com o embaixador iraniano no Brasil, Houssein Gharibi, em 2023, mas também se encontrou com representantes de ao menos outros 20 países, em compromissos públicos registrados no e-Agendas.

Conteúdo investigado: Deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) afirma, em uma série de tuítes, que o ministro Silvio Almeida recebeu a diplomacia do Irã, país que apoia o Hamas, em duas de cinco agendas bilaterais que teve no ano. “Qual o motivo de tamanho prestígio do Irã com o senhor ministro?”, escreve o parlamentar. Ele ainda pergunta se o encontro com o embaixador iraniano no Brasil está relacionado ao fato de Almeida não classificar o Hamas como uma organização terrorista em meio ao conflito com Israel.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: É enganoso que o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, tenha tido apenas cinco encontros bilaterais neste ano, sendo dois com representante do Irã, conforme afirma o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) em uma série de tuítes em 16 de outubro de 2023.

De fato, o ministro se reuniu neste ano com o embaixador iraniano no Brasil, Houssein Gharibi, duas vezes, mas também registrou encontros deste tipo com representantes de outros 20 países. Todas essas reuniões constam no e-Agendas, plataforma de uso obrigatório para a divulgação de compromissos dos agentes públicos do Poder Executivo federal, segundo Decreto 10.889/2021. O decreto, no Art. 12, prevê ainda que “o compromisso público realizado sem agendamento prévio deverá ser registrado e publicado no e-Agendas ou no sistema próprio, […] no prazo de sete dias corridos, contado da data de sua realização”.

Ao Comprova, a assessoria do deputado comunicou que a alegação dele se baseou em consulta ao e-Agendas em 11 de outubro de 2023. Contudo, já constavam na plataforma agendas bilaterais do ministro com representantes de outros 15 países, registradas em data anterior à consulta do parlamentar. Depois disso, foram acrescidos encontros com mais cinco países.

Além do Irã, as diplomacias da China e dos Estados Unidos também tiveram dois encontros cada com o chefe do MDHC registrados no sistema. O Chile teve três compromissos, incluindo um jantar em visita do ministro ao país. Silvio Almeida ainda teve nove eventos com representantes de Angola, todos eles ocorridos em uma viagem de três dias ao país africano, entre 24 e 26 de agosto.

O deputado federal alegou que o ministro teria privilegiado o Irã para questionar o fato de Almeida não classificar o Hamas, que protagoniza conflito com Israel, como uma organização terrorista. O governo iraniano é aliado do grupo extremista palestino.

O ministro repete, contudo, o entendimento da diplomacia brasileira. O Itamaraty não considera o Hamas como um grupo terrorista atualmente, por entender que a adoção do termo deve ocorrer apenas se for assim acatada por resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O primeiro da série de tuítes do deputado teve cerca de 79,2 mil visualizações, mil repostagens e 6,4 mil curtidas até 24 de outubro.

Como verificamos: O Comprova entrou em contato com a assessoria do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania com pedido para que fosse cedida a agenda de reuniões bilaterais do ministro Silvio Almeida em 2023. Foi disponibilizado, em resposta, um arquivo com uma lista desses compromissos.

A reportagem verificou, então, se os eventos listados constavam também no e-Agendas, uma vez que, ao Comprova, a assessoria do deputado federal Marcel van Hattem justificou que as informações disponíveis na plataforma teriam baseado a publicação feita por ele.

Ao buscar no Google os termos “Silvio Almeida encontro bilaterais”, o Comprova também identificou notícias sobre reuniões do ministro com representantes de outros países em viagens ao exterior (Agência Brasil, Poder360).

Registros e ausências no e-Agendas

De acordo com registros do sistema eletrônico de agendas do Poder Executivo federal (e-Agendas), o ministro Silvio Almeida realizou encontros com representantes de outros 20 países, além do Irã, durante o ano de 2023.

Constam na plataforma online reuniões também com África do Sul, Angola, Azerbaijão, Barbados, Chile, China, Cuba, Estados Unidos, França, Luxemburgo, Malásia, Marrocos, Moçambique, Países Baixos, Peru, República Democrática do Congo, Reino Unido, Rússia, Suíça e Turquia. Os dados foram contabilizados de janeiro até a data da publicação deste texto (24 de outubro).

Um dos compromissos com os Estados Unidos e um outro com a República Democrática do Congo, de 24 de janeiro de 2023, contudo, aparecem vinculados ao antigo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, denominação anterior da pasta. Os demais encontros têm registro atrelado ao atual Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Há ainda registros que foram acrescidos ao e-Agendas apenas em 23 de outubro, após o Comprova questionar a ausência deles da plataforma: trata-se de compromissos em visita a Luanda, capital de Angola, no mês de agosto, em ida a Nova Iorque, nos Estados Unidos, em agenda de mobilização do Brasil por assento no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), e em viagem ao Chile para uma homenagem a brasileiros exilados durante a ditadura, em setembro.

Além disso, uma segunda agenda com a China, do dia 15 de maio, consta no sistema eletrônico, mas sem menção aos representantes estrangeiros presentes. Na plataforma, é informado apenas o local do jantar de cortesia, que teria sido realizado na Embaixada da China em território brasileiro. A primeira reunião com o mesmo país, feita em 2 de fevereiro, foi registrada no e-Agendas.

 

 

Ministro repete o Itamaraty sobre o Hamas

Ao alegar que o ministro privilegiou a diplomacia iraniana em sua agenda até aqui, o que não é verdade, o deputado federal Marcel van Hattem questiona se isso teria relação com o fato de Almeida não chamar o Hamas de organização terrorista. O governo iraniano é apoiador de grupos anti-Israel no Oriente Médio, entre eles o Hamas, que protagoniza conflito armado com Israel atualmente.

Em manifestações pelas redes sociais, Silvio Almeida endossou apelos do presidente Lula (PT) por um corredor humanitário na Faixa de Gaza e por um cessar-fogo em defesa das crianças israelenses e palestinas. Ele também destacou as operações de repatriação de brasileiros na região do conflito e classificou como “atentados”, em publicação do último dia 10, a ofensiva do Hamas em 7 de outubro que deu início ao atual conflito e que matou o brasileiro Ranani Nidejelski Glaze no Sul de Israel.

“O MDHC manifesta solidariedade à família e aos amigos de Ranani e reitera a manifestação do Estado brasileiro de repúdio a ataques contra a população civil”, escreveu Almeida na ocasião, sem classificar o Hamas como terrorista ou mesmo citar o nome do grupo extremista palestino.

O ministro repete uma abordagem da diplomacia brasileira. O Conselho de Segurança da ONU não classifica o Hamas como grupo terrorista, e o Itamaraty segue esta avaliação, bem como a maior parte dos países membros da ONU, entre eles Noruega, Suíça, México, Rússia e Colômbia, além do Brasil.

Apesar da definição da ONU, países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Japão, integrantes da União Europeia e outras nações classificam o Hamas como uma organização terrorista.

“A prática brasileira, consistente com a Carta da ONU, habilita o país a contribuir, juntamente com outros países ou individualmente, para a resolução pacífica dos conflitos e na proteção de cidadãos brasileiros em zonas de conflito – a exemplo do que ocorreu, em 2007, na Conferência de Anápolis, EUA, com relação ao Oriente Médio”, diz nota do Itamaraty, publicada no dia 12 de outubro.

No último dia 20 de outubro, o presidente Lula tratou pela primeira vez como “terrorismo” os ataques do Hamas a Israel. O entendimento dele não foi repetido até aqui, contudo, pelo Itamaraty nem pelo ministro Silvio Almeida.

O que diz o responsável pela publicação: Por e-mail, a assessoria de Marcel van Hattem afirmou que ele havia obtido as informações dos encontros a partir de consulta ao e-Agendas em 11 de outubro. Mas, como afirmado acima, outros encontros já constavam na plataforma na data.

O que podemos aprender com esta verificação: Dados reais são frequentemente usados fora do contexto de maneira intencional para enganar e levar a uma interpretação diferente da verdadeira. No caso checado, o autor da publicação utiliza dados parciais e informações incompletas para inferir que o ministro estaria priorizando as relações com o Irã.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Peças de desinformação que envolvem o conflito entre o Hamas e Israel têm sido recorrentes. O Comprova já verificou que um vídeo viral mostra turistas estrangeiros no Ceará, e não integrantes do grupo extremista no Brasil; que Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, não disse que Lula deveria se preocupar com comida para brasileiros em vez da guerra; que o Brasil doou R$ 25 milhões à Autoridade Palestina para ajuda humanitária, e não ao Hamas; que o presidente brasileiro depositou flores no Museu do Holocausto, ao contrário do que alega vídeo; e que o governo assinou acordo com a Autoridade Palestina, e não com o Hamas.

O Comprova também mostrou recentemente que Silvio Almeida não pediu a anulação de eleições para conselhos tutelares porque “a direita venceu”.

 

Atualização 1: Para dar mais clareza a esta verificação, o conteúdo foi atualizado em 25 de outubro de 2023 para incluir duas tabelas que listam as reuniões realizadas pelo ministro Silvio Almeida, com as datas de realização e de registro no e-Agenda e link para os prints de cada um dos registros dessas reuniões na plataforma. 

Atualização 2: Esta verificação foi atualizada em 31 de outubro de 2023 para destacar o que diz o Art. 12 do Decreto 10.889/2021 sobre o prazo de registro e publicação no e-Agendas. 

Política

Investigado por: 2023-10-23

Policiais foram expulsos pelo MST de protesto em rodovia no PR, e não feitos reféns

  • Enganoso
Enganoso
Três policiais militares foram rendidos e expulsos por manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) de um protesto que bloqueou a rodovia PR-170 na altura de Guarapuava, no centro-sul do Paraná, em 19 de outubro. Diferentemente do que alega publicação no Telegram, eles não foram feitos reféns, o que foi negado pelo MST e pela própria Polícia Militar do Paraná (PMPR). O ato reivindicava a regularização fundiária de comunidades na região.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no Telegram traz a seguinte legenda: “Que absurdo, policiais são feitos de reféns por Terroristas MST [sic] em Guarapuava no Paraná”. O registro mostra ao menos dois policiais rendidos por várias pessoas que caminham com bandeiras do MST à beira de uma rodovia, no que parece ser um protesto. Há dois narradores no vídeo, que, aparentemente, gravam a cena de dentro de um carro que percorre a pista. “Pegaram a polícia… refém. Filma, filma”, diz um deles.

Onde foi publicado: Telegram e X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: Manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) não fizeram policiais reféns à beira da rodovia PR-170 na altura de Guarapuava, diferentemente do que alega publicação em canal do Telegram. Três agentes foram rendidos em 19 de outubro e expulsos do trecho da estrada onde era feito bloqueio pela entidade em protesto pela regularização fundiária de comunidades na região.

A alegação sobre os policiais terem sido feitos reféns foi negada pelo MST e pela própria Polícia Militar do Paraná (PMPR), à qual os agentes rendidos são vinculados.

“Os policiais envolvidos na ocorrência passam bem, nenhum deles foi feito refém e já se encontram na sede do 16º BPM”, escreveu a corporação em nota ao Comprova.

A PMPR comunicou ainda que os manifestantes utilizaram “força e agressão” para retirar do local a equipe policial, que, ainda segundo a corporação, se deslocou de maneira pacífica para liberar a rodovia.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até dia 23 de outubro, a publicação no Telegram havia tido 12,7 mil visualizações. No X, onde o vídeo aparentemente foi publicado primeiro, a publicação contava com 360 visualizações.

Como verificamos: O Comprova identificou notícias relacionadas ao vídeo ao buscar no Google pelos termos “Guarapuava Polícia MST refém”. Uma reportagem do G1 exibe o mesmo vídeo que circula no Telegram e contextualiza que os policiais foram rendidos por manifestantes do MST na ocasião.

A publicação do G1 relata que, em nota, a Polícia Militar paranaense negou que os policiais tivessem sido feitos reféns. O Comprova buscou, então, contato com a corporação, que reforçou o posicionamento. O MST também divulgou comunicado, no qual afirma ser falsa a acusação.

O Comprova também tentou contato com o canal do Telegram que fez a divulgação do vídeo, mas não obteve retorno até esta publicação. A reportagem identificou um dos autores que narram o registro, mas não conseguiu entrar em contato.

Rendição de PMs ocorreu após bloqueio em rodovia

A rendição dos três policiais militares ocorreu em meio a um protesto do MST na altura do km 390 da rodovia PR-170, em trecho que passa pelo município de Guarapuava.

Uma reportagem local do G1 PR noticiou que o protesto com bloqueio da rodovia teve início na quarta (18), mas depois foi interrompido. A manifestação foi retomada então na manhã de quinta, quando a via teve o trânsito paralisado por cerca de três horas. Foi nesse segundo momento de interdição em que houve o impasse do MST com os policiais militares, que acabaram rendidos.

“Uma equipe deslocou até local e de maneira pacífica pediu para que os manifestantes liberassem a via, que é a única estrada de acesso a cidade vizinha de União da Vitória, sendo repassado aos manifestantes que há uma Liminar de Interdito Proibitório emitida pela 1ª Vara da Fazenda Pública de Guarapuava proibindo o bloqueio da via”, escreveu a PMPR, em nota ao Comprova.

A corporação comunicou ainda que, por ocasião das agressões e ameaças proferidas contra os policiais que negociavam o desbloqueio da via, foram expedidos dois mandados de prisão e um mandado de busca e apreensão pela 3ª Vara Criminal de Guarapuava, para serem cumpridos nesta sexta (20) no Assentamento Nova Geração em Guarapuava, a partir de onde o MST mobilizou o protesto.

Foram abordadas cerca de 200 pessoas e dez delas foram conduzidas a uma delegacia da Polícia Civil, ainda de acordo com a PMPR. “Seis pessoas foram identificadas como envolvidas nas agressões aos policiais militares e estão sendo ouvidas pelo Delegado de Polícia que preside o Inquérito Policial.”

MST pede regularização fundiária de 14 comunidades na região

O MST divulgou, em nota, que os bloqueios reivindicam uma resposta da superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Paraná (Incra-PR) sobre pedidos de regularização fundiária de 14 comunidades da reforma agrária e de posseiros da região.

“As comunidades estão localizadas nos municípios de Inácio Martins, Pinhão, Reserva do Iguaçu e Guarapuava, em 75 mil hectares de terras griladas por grandes proprietários. Cerca de 2 mil famílias camponesas vivem nas comunidades, algumas há mais de 30 anos, à espera da formalização dos assentamentos”, comunicou o movimento social.

Ao Comprova, o Incra-PR comunicou ter se reunido com representantes de trabalhadores rurais acampados, dos assentados da região de Guarapuava (PR) e da Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) no último dia 19 de outubro para tratar das reivindicações.

O órgão afirmou ainda ter firmado um compromisso de enviar, na segunda quinzena de novembro, uma equipe de técnicos por ações de supervisão e regularização ocupacional ao local.

“Também ficou acordado que, no mês de dezembro, será realizado o cadastramento de acampados e posseiros de Pinhão [município vizinho a Guarapuava] e região, por meio de um novo sistema informatizado, desenvolvido para esse fim”, escreveu o Incra-PR, em nota.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato pelo e-mail cedido na descrição do canal “MSP – Movimento Sem Picanha”, mas não obteve retorno até esta publicação. Foi encontrado o primeiro perfil que compartilhou o vídeo no X – sem alegar sequestro –, mas a conta não permite o envio de mensagens e não foram encontrados perfis com correspondência.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma das táticas mais utilizadas por desinformadores é o uso de informações reais de forma distorcida ou intencionalmente fora do contexto para enganar e levar a uma interpretação diferente da verdadeira. A publicação confunde ao afirmar que os policiais rendidos foram também feitos reféns pelos integrantes do movimento.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou uma série de publicações envolvendo a atuação do MST. Recentemente, mostrou que post engana ao associar o grupo plantação de maconha na Bahia e que matança de bois no mesmo estado não tem relação com o movimento.

Política

Investigado por: 2023-10-20

Vídeo mostra turistas estrangeiros no Ceará, não integrantes do Hamas no Brasil

  • Falso
Falso
É falso que o grupo extremista Hamas tenha chegado ao Brasil, como alegam postagens nas redes sociais. Vídeos de cunho preconceituoso usam imagens de homens vestidos com trajes tradicionalmente usados por muçulmanos andando por uma cidade no interior do Ceará para afirmar que eles fariam parte do grupo palestino que atacou Israel em 7 de outubro deste ano.

Conteúdo investigado: Vídeo utiliza imagens recentes de homens em trajes tradicionais da religião muçulmana andando por uma cidade no interior do Ceará que foram sobrepostas com os dizeres “REBELDES DO HAMAS JÁ ESTÃO NO BRAZIL. NAVIL ESTA ANCORADO NO CIARÁ CIDADE DE CRATEUS” (sic). Na montagem, são incluídas ainda fotos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, com Mohamad Sami El-Kadri, que hoje preside o Fórum Latino Palestino. Há ainda um print de um tuíte com uma ameaça do Estado Islâmico direcionada ao Brasil.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter) e TikTok

Conclusão do Comprova: Postagem com imagens de homens em trajes tradiconais muçulmanos caminhando pela rua mente ao afirmar que o grupo extremista palestino Hamas teria chegado ao Brasil. O vídeo, de cunho preconceituoso, associa registros da passagem de turistas estrangeiros por cidades no Ceará com uma suposta chegada ao país do Hamas, movimento islamista que atacou Israel em 7 de outubro de 2023.

A postagem falsa diz que os supostos “rebeldes do Hamas” teriam chegado de navio, que estaria ancorado em Crateús. Porém, a cidade citada não fica no litoral do Ceará e está, na verdade, a cerca de 300 quilômetros do mar.

Segundo a prefeitura de Crateús, o grupo, de cerca de 10 estrangeiros, esteve hospedado na casa de uma moradora da cidade por volta de uma semana atrás, mas já partiu. Não há informações precisas sobre a origem dos turistas.

O Comprova consultou o diretor do Centro Islâmico do Ceará, Yahya Simões, que afirmou que pelas vestimentas – que são, de fato, islâmicas – os homens aparentam ser do Paquistão ou da Índia.

O vídeo desinformativo traz ainda uma montagem com fotos de Lula e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, ao lado de Mohamad Sami El-Kadri, que hoje preside o Fórum Latino Palestino, e do presidente brasileiro ao lado do presidente do Irã, Ebrahim Raisi. Nesta última, Raisi é identificado como “o chefe do Hamas”, o que não é verdade.

O conteúdo engana também ao mostrar um tuíte em francês com uma ameaça ao Brasil. A postagem é de novembro de 2015 de uma conta relacionada ao Estado Islâmico, sem relação alguma com o atual conflito entre Israel e Hamas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post no X teve 181 mil visualizações até 18 de outubro. Ele foi apagado posteriormente.

Como verificamos: O Comprova buscou pelos termos “árabes”, “muçulmanos” e “Ceará” e encontrou vídeos similares aos utilizados na postagem enganosa com a indicação de que teriam sido filmados em Crateús e Tianguá, no Ceará. Foi feito contato com ambas as prefeituras.

Para encontrar as pessoas fotografadas com o presidente Lula e com Gleisi Hoffmann, foram utilizadas as ferramentas de busca reversa PimEyes e InVID. Mais pistas de quem poderiam ser as pessoas nas imagens foram encontradas nos próprios comentários no vídeo verificado aqui. Uma vez identificados, bastou pesquisar os nomes ‘Mohamad Sami El-Kadri’ e ‘Ebrahim Raisi’ para obter mais informações sobre quem são e quando teriam se encontrado com os petistas.

Por fim, para checar o tuíte com ameaça ao Brasil, o Comprova pesquisou o nome do usuário revelado pelo próprio vídeo e rapidamente encontrou notícias de 2016 sobre o assunto. Isso mostrou que a postagem era real, porém sem conexão alguma com o atual conflito entre Israel e Hamas.

Postagem preconceituosa

O conteúdo checado faz uma montagem de imagens de diversas fontes, recentes e antigas, com o objetivo de desinformar.

A primeira parte mostra homens com vestes geralmente utilizadas por muçulmanos andando pelas ruas de alguma cidade brasileira (as placas das lojas estão em português).

Ao Comprova, os assessores de comunicação das cidades de Crateús e de Tianguá confirmaram que os vídeos foram gravados nesses locais. Segundo eles, trata-se de um grupo de turistas que estaria hospedado na casa de uma mulher em Crateús e que viajou para Tianguá.

Postagens nas redes sociais mostram que a passagem dos estrangeiros causou comoção nos dois municípios. Há diversos vídeos em que eles aparecem jogando futebol e caminhando pela rua. Não há informações concretas, contudo, sobre a nacionalidade dos turistas.

O diretor do Centro Islâmico do Ceará, com sede em Fortaleza, Yahya Simões, confirmou que as vestimentas estão relacionadas à religião muçulmana e condenou o preconceito presente nas publicações.

“Pelos comentários no vídeo, você vê o imenso preconceito que existe contra os muçulmanos. Esse vídeo nada mais é do que falsa propaganda querendo manchar a índole e a imagem dos muçulmanos, seja no Ceará, seja no Brasil, seja no mundo. Deve-se ter em mente que os muçulmanos que praticam a religião da maneira correta são contra qualquer tipo de ato de extremismo, qualquer tipo de ato de injustiça”, afirma.

Montagem de fotos fora de contexto

A segunda parte do vídeo traz fotos de Lula e de Gleisi Hoffman com dois homens. Um deles, que o desinformador acusa ser “o chefe do Hamas”, na verdade, é o presidente do Irã, Ebrahim Raisi.

A foto é do dia 24 de outubro de 2023 e foi tirada em Joanesburgo, na África do Sul, no contexto da Cúpula do BRICS. Os dois presidentes tiveram uma reunião bilateral naquele dia, após o Irã ser confirmado como novo membro do BRICS – como consta em publicação oficial do Planalto.

A imagem original está no Flickr oficial do Planalto e também no Instagram do presidente Lula.

A outra pessoa é o brasileiro Mohamad Sami El-Kadri, que hoje preside o Fórum Latino Palestino. Em 2018, ele foi candidato a deputado estadual de São Paulo pelo PT. Também há registros na internet mostrando que ele foi presidente da Associação Islâmica de São Paulo, em 2005, e coordenador do Comitê de Apoio à Luta e Revolução do Povo Sírio, em 2012. À Lupa, El-Kadri informou que a foto com o presidente Lula foi tirada quando o petista saiu da prisão, em novembro de 2019, enquanto a foto com Gleisi Hoffmann foi feita quando ele presenteou a parlamentar com a hata, o lenço palestino.

A última parte do vídeo verificado exibe um print de um tuíte em francês com uma ameaça ao Brasil.

A publicação é de novembro de 2015, sem relação alguma com o atual conflito entre Israel e Hamas. Na época, uma conta vinculada ao membro do Estado Islâmico (EI) Norman Maxime Hauchard de fato publicou “Brasil, vocês são nosso próximo alvo”. Isso foi após os ataques terroristas do dia 13 de novembro daquele ano em Paris, alguns meses antes dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

O que diz o responsável pela publicação: O perfil no X que publicou o vídeo não permite envio de mensagens diretas. Ele não foi identificado em outras redes sociais.

O que podemos aprender com esta verificação: Muitas publicações desinformativas estão aparecendo em meio ao conflito entre Israel e Hamas. Inclusive, postagens de cunho preconceituoso, como o vídeo verificado aqui. Diante de um assunto de grande evidência, é especialmente importante tentar pesquisar a origem das alegações que surgem nas redes sociais. A partir daí, é possível filtrar se determinada postagem é verossímil quando há notícias ou notas oficiais do governo corroborando o que foi dito, ou se a alegação foi simplesmente inventada.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo verificado aqui também já foi desmentido pelo Boatos.org e pela própria Secom do governo federal. Alegações falsas acrescentadas à fotografia do presidente Lula com Mohamad El-Kadri também já foram investigadas pela Lupa e pelo Estadão Verifica. A fotografia do petista ao lado do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, já foi verificada por veículos como Lupa, Aos Fatos e AFP Checamos.